sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Do sétimo andar

Deus sabe o que quis foi te proteger
do perigo maior que é você
E eu sei que parece o que não se diz
o seu caso é o tempo passar
Quem fala é o doutor

Parece que foi ontem, eu fiz
aquele chá de habu
pra te curar da tosse do chulé,
pra te botar de pé

E foi dificil ter que te levar
àquele lugar.
Como é que hoje se diz?
Você quis ficar*

*licença para modificação da letra

é!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

"A embriaguez é um direito humano fundamental"

A boca trêmula, as mãos nervosas escondidas nos bolsos da calça. A cara abatida, um pouco inchada, o olhar perdido. Eu tentava descobrir o que você poderia estar pensando, mas chegava sempre a mesma conclusão: nenhum pensamento passava por sua cabeça, você não estava mais ali.
- O que você vai fazer quando sair daqui?
- Não sei...
Os momentos de silêncio nos quais você observava alguma coisa muito interessante na parede, que só você podia ver, eram constantes.
- Vou beber, pinga com limão... e uma cerveja.
- De novo?
- É! Mentiram pra mim, disseram que eu ia ficar aqui só cinco dias, eu vou ficar pelo menos vinte e um.
- E pra se vingar você vai beber de novo? A sua vingança é fazer mal pra você mesmo? Muito inteligente.
O silêncio, de novo. Agora você observava uma família, que ria abraçada ao menino mirrado, ele estava ali pelo mesmo motivo que você. Nesse momento você, provavelmente, voltou à lucidez, deve ter pensado que já perdeu a confiança e a esperança de quem te ama, afinal, ninguém estava ali, além de mim. Alguém um pouco distante pra parecer se importar de verdade. Mas eu estava ali, e eu ainda acredito em você.
- Você deve ter um objetivo na vida, um sonho. Se você não tiver por você, tenha por seu filho, ele ainda vai precisar muito do seu apoio.
- Eu não me importo. Eu não me importo se morrer. Ela cuida dele.
- Você não sabe o que está falando.
- Aquele ali disse que tá aqui por bebida e maconha. Eu acho que é pedra. Mas sabe como é, rico só vem pra cá por depressão.
- E se você saísse daqui e fosse pra outro lugar, um pouco melhor que esse, pra ficar mais tempo.
- Perder meu tempo...
- Mais tempo do que você já perdeu?
Seu olhar fitou o chão, seus pés calçavam um chinelo de dedo surrado. Não parecia mais o mesmo de alguns anos atrás, não tinha porque parecer. O tempo e a maneira como você tinha ocupado o seu, tinham realmente te deixado diferente. Você não parecia feliz há muito tempo. Não era mais compreendido.
- Sabe, eu te entendo. O mundo parece girar mais rápido, tudo nos desvia de buscar ideiais pelos quais lutar. Nada tem sentido. É comum demais alguém tentar fugir da realidade assim. Eu te entendo.
Duas horas se passaram assim, entre diálogos e monólogos, durante os quais você preferia fitar o chão. Mas eu sabia que você ouvia bem.
- Bom, acho que vou embora.
Eu não te abraçava há tanto tempo.
- Pensa no que eu te falei. Pensa bem. Eu gosto muito de você.
O abraço, inicialmente tímido, ficou apertado.

sábado, 23 de agosto de 2008

Repetitiva

Home, home again
I like to be here when I can
When I come home cold and tired,
It's good to warm my bones beside the fire
Far away across the field
The tolling of the iron bell
Calls the faithful to their knees
To hear the softly spoken magic spells.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Companhia

Achei companhia pra minha viagem pela América Latina.
É inesperada, não posso revelar porque teremos que fugir do país.
Mas vai ser ótimo, com certeza. A viagem vai ser uma daquelas caminhadas interiores, que fazem as pessoas se conhecerem melhor, compreenderem o outro e, principalmente, perdoarem algumas coisas mal resolvidas.

Não adianta, você só vai saber ano que vem, quando eu fizer o primeiro post da viagem, com uma foto da partida.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Preguiça²

Não consegui me livrar da preguiça das pessoas, com um adicional de preguiça própria. Mas na sexta um acontecimento me fez acreditar em algumas pessoas, ter esperança e me cobrar um pouquinho pra não ser tão preguiçosa.
Na balada, arrasando, amigos, balde de heineken, banda boa, bar legal, caras bonitos, amigos loucos, heineken, olhares, abraços efusivos, bêbados emotivos que mais pareciam ursinhos carinhosos... No meio de tudo isso minha amiga achou um carinha legal, que conhecia de vista, olhou, encarou, até que em uma das nossas voltas em círculo pelo bar minúsculo, eu olho para trás e.... ela sumiu. Depois de um tempo, avistei-a beijando o cara. Cinco minutos e ela chega indignada: ele era casado. Alguém passou, ele se escondeu, ela perguntou e ele falou, rindo. Ela virou as costas e saiu, com estilo.
Cinco minutos e ele passa, puxa-a pelo braço pra um canto e vai conversar, pedir desculpas, disse que não resistiu, etc, etc, etc. Aquele mesmo discurso batido, que todo homem acha que toda mulher vai engolir e, quem sabe até, se ela é tão irresistível, continuar com ele.
Ela não é mais uma, não caiu, mandou à merda, com um discurso lindo. Não vou conseguir reproduzir as palavras exatas, mas no meio tinha: "Blá, blá, blá, você está me fazendo afetar a vida dela, sem eu querer. Blá, blá, blá, você não tenho esse direito. Blá, blá, blá, olha só o que você tá fazendo", entre desculpas envergonhadas, "Cuida da tua guria".
Isso não é lindo?!! Se não pode ser apreciado esteticamente é, pelo menos, raro. E de tão raro pode ser sim, apreciado como uma bela obra de arte.
Este ato, que muitos vão definir como comum e talvez até idiota, só mostra que ela se valoriza, que ela não se rebaixou ao nível dele, que ela não compactuou com a traição. Tudo bem, ele quis, ele fez, mas se existissem mais mulheres como minha amiga (com muito orgulho) não haveria tanto homem que desrespeita suas namoradas, noivas ou esposas. Eles tentam, porque sabem que no meio de toda a massa de mulheres existem várias que não se importam, não se valorizam e não exigem exclusividade. Pois pra mim, todas se enganam. São oportunistas de plantão, esperando a desgraça alheia para saciar a fome de amor, mesmo que este seja metade, frio e mentiroso. Eu morro de preguiça dessas mulheres, elas sempre juram que são as vítimas, pobre coitadas, pobres vadias. Porque elas se enganam. Porque elas estão num nível baixo e são pisoteadas assim que eles resolvem subir o nível. Elas existem, aos milhares, desconhecidas, conhecidas, amigas, inimigas, interferindo em vidas e relações achando que nada tem preço. Se enganando e me dando preguiça. Falta-lhes o que? Amor próprio? Capacidade intelectual? Não, não me digam que pode ser apenas falta de afeto...
Eu amo minha amiga, ela me orgulha MUITO, ela me despertou. Desde sexta eu não bocejo em conversas. Talvez ALGUMAS (eu disse algumas) pessoas mereçam um pouco do meu tempo e da minha disposição.

domingo, 17 de agosto de 2008

Preguiça

Estou com preguiça das pessoas. Uma preguiça enorme de ouvi-las se enganando e tentando me enganar também. Todo mundo parece estar numa partida constante, de um jogo no qual o adversário somos nós mesmos. Cheque-mate! Acabei com o meu jogo, não ganhei nem perdi, mas me disseram que tinha que ser assim.
Agora sou uma observadora atenta dos sintomas. Já percebi que as pessoas adoram me usar como um pré-teste. Vou explicar: elas estão se enganando, sabem o que sentem, o que querem e o que pensam de verdade, mas me falam exatamente aquilo que gostariam de estar sentindo, querendo ou pensando. Se eu acredito, elas seguem em frente, na maioria das vezes. Se eu não acredito, elas também seguem em frente, afinal, quem sou eu pra entrar em um jogo que não é meu? Eu finjo, faço cara de lâmpada e dou aquele sorrisinho amarelo. Não posso ganhar a partida por ninguém... posso provocar, nada mais que isso.
É tão simples e libertador jogar limpo. Não interessa se estou sendo infantil, ignorante, idiota, burra... sou eu e ninguém pode mudar isso.
Eu perdi uma partida, mas joguei limpo. Estava triste, na verdade com ciúmes de um menino que eu ficava. Há poucos dias ele me amava e ia me esperar pra sempre. Era bom conversar com ele, eu abria o jogo e ele entendia, só me falava que era besteira demais sofrer. Eu não sofria, só tentava me proteger. Não queria. Mas ele sempre estava ali, pronto pra conversar. Pra ligar de madrugada quando eu não saia com ele, e dizer que, como eu não tinha ido, ele tava bêbado e precisava dizer que me amava. Até que ele desistiu de mim. Agora, não tenho mais quem me bajule, quem me ligue, quem diga que me ama. É triste, dói... mas até que ponto é ego ferido e até que ponto realmente quero estar com ele?? O medo se explica por poder escutar um "agora quem não quer sou eu" ou um "eu quero" e ver que não era aquilo que EU queria. Difícil decidir, né?
"Antigamente", eu mentiria pra mim e diria que queria de novo, só de teimosia, só pra não perder. Inventaria que ele está com outra pra passar tempo. Mas pra que me enganar? É justo. E quem sou eu pra deixar meu ego destruir alguma coisa legal. Hum? É isso e ponto final.

" E eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz."

Música de hoje "O vencedor", Los Hermanos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Tudo o que preciso

Eu ia começar um texto no plural, mas a questão é bem singular.
Analisando bem, o que preciso mesmo, é de um cara que tenha um papo bacana, (censurado), que faça cafuné, ligue de madrugada sem eu pedir , só pra dizer que não vive sem mim e que curta rock'n'roll....

Eu ando carrancuda, amanhã serei a garota mais simpática da cidade.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Lembretes

1. Não engravidar nos próximos 30 dias;
2. Não doar sangue nos próximos 30 dias.
É que eu tomei vacina contra rubéola e sarampo e diz aqui que não pode. Vai que eu esqueço...

Esse tempo maluco e frio acabou com meu sistema respiratório, mas eu até gosto da minha voz rouca. Fica sexy!

;*

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A extinção das borboletas

É muito reconfortante pensar que tudo está fadado ao fracasso. Mas é um conformismo que dói, que incomoda, como se implorasse para que não fosse verdade. Não fosse a persistência e a passividade a que tudo está submetido, nada nunca mudaria e as histórias seriam sempre as mesmas. Felizmente, não são. Mas o medo da repetição aprisiona. Ah! Como eu tenho medo de recair naquela mesmisse que é o amor. O medo daquela certeza ridícula e absoluta do fracasso.
Há muito tempo, aliás, não sinto as borboletas no meu estômago - sintoma típico de algo que num futuro indefinido me levará às náuseas e ao vomito e só eu mesmo posso imaginar o tamanho da minha aversão ao ato de vomitar. Meu estômago já optou pela autofagia. E é como se eu conseguisse sentir o gosto amargo ao digerir minha própria carne. Enquanto isso, eu seguro o vomito e engulo o choro.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Férias

O doce mais gostoso do mundo, com creme de coco e morangos, não tinha gosto. O tempo passava como se meu corpo não sentisse, como se meu cérebro estivese amortecido demais para se dar conta do que passava ao meu redor. Foram uns quatro dias. Nestes, a impressão que tive, foi a de que não vivi. Foi tempo perdido, desperdiçado, para algo maior que me puxava pra dentro de um poço fundo, que parecia sem volta. O único momento de resgate para a realidade foi quando eu estava bêbada, mas eu estava muito bêbada pra saber distinguir a fantasia do real. Eu podia dormir horas, eu podia olhar horas para um ponto fixo sem nenhum sentido e sem, realmente, pensar em alguma coisa. Eu, simplesmente, não conseguia pensar. Se eu pudesse raciocinar, ao menos um pouco, iria jurar que tinha sido lobotomia e ia ter medo que não tivesse volta. Mas acho que eu simplesmente tirei férias de mim. Era imprescindível, então, que eu não descobrisse. Para isso cortaram todas as ligações dos sentidos com meu cérebro: eu não sentia gosto, cheiro, não via ou ouvia, é certo que falei algumas frases soltas e sem sentido por aí, mas nem lembro muito bem. É bem certo que não vivi esses dias. É certo também que falhei, as lembranças me denunciaram à pequena parte que ficou de plantão. E ontem, quando eu menos precisava voltar à mim, antes de dormir, eu voltei. Não foi como uma pancada na cabeça ou como receber uma entidade. Quando encostei a cabeça no travesseiro, eu apenas senti, tudo de novo, the same old way... dormi feliz, por estar de volta.