quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Quando o inimigo é você

Acabei de chegar em casa, ia fazer um suco, mas vi algumas cervejas na geladeira. Abri uma pale ale e acendi um cigarro, apesar de ter parado de fumar há umas três semanas. Sabia que aqueles dois cigarros que eu tinha deixado sobre a mesa da sala iam ter serventia um dia. Penso numa história há dias e decidi que hoje iria escrevê-la, pelo simples fato de que escrever aqui me faz bem.

A primeira vez foi a mais ou menos seis meses. A sala de espera estava lotada e eu por muitas vezes me perguntei o que estava fazendo ali. Uma mulher loira, de uns 45 anos também aguardava. A ela faltava um pouco de pudor e talvez aprender a controlar o volume da voz, pois parecia querer contar a todos que já estivera ali antes e o que fazia. Quando ela entrou no consultório eu podia escutar sua voz do lado de fora, mesmo que a acústica do prédio parecesse boa. Ela ria e não parecia ser nada grave, apesar de transparecer todo o nervosismo na sua euforia. Talvez toda essa euforia escondesse seus problemas. Lembrei que um dia já fui eufórica e que agora preferia me calar a parecer uma ridícula. De uns tempos pra cá eu comecei a me importar demais com que os outros pudessem pensar sobre mim.

Quando chegou a minha vez, entrei no consultório e conheci meu psiquiatra. Ele parecia amigável, mas um pouco estranho. Gordo, com barba e estrábico. Eu realmente não sabia em qual olho fixar a atenção para conversar. Com toda objetividade e um pouco da timidez, comum a todas as pessoas que uma hora precisam expor tudo aquilo que lhe atormenta. Acho que ele percebeu e a primeira coisa que falou depois do meu relato, de que minha paranóia estava atrapalhando minha vida, foi que não apenas loucos procuravam psiquiatras. Eu não me senti aliviada, mas como se ele tivesse adivinhado que eu estava temendo a loucura. Não essa loucura saudável de deixar as amarras de lado e fazer coisas que qualquer conservador ou cristão iria condenar. Mas aquela loucura que nem camisa de força segura, mas quando o pior inimigo é você.

Sabe, é difícil perceber, e depois admitir, que todos os seus problemas são criados por você mesmo, quando tem medo do que as pessoas possam pensar de você, o julgamento que elas possam fazer de suas atitudes e, principalmente, no meu caso, o medo de que as pessoas tenham certeza da minha falta de capacidade, de me encaixar naquele grupinho do senso comum. Se existie um botão pro senso crítico o meu está desligado, para que a auto-crítica esteja lá no alto, no nível máximo que um ser humano possa chegar
Às vezes eu me condeno. Não! Eu sempre me condeno e me culpo por tudo e fico me massacrando psicológicamente pelas coisas que faço ou deixo de fazer e da avaliação que os outros possam estar fazendo disso.

Depois de falar tudo isso e mais um pouco, veio meu diagnóstico: transtorno de ansiedade social, ou fobia social. Eu tenho pavor da análise feita pelos outros sobre meu desempenho. Eu que sempre pensei que os outros deveriam ter medo de mim, me vejo acuada por qualquer cara feia, que pode ser motivada por uma prisão de ventre, uma briga com a esposa ou marido, ou simplesmente o mau humor. Eu sempre vou me achar culpada e ficar pensando o que foi que eu fiz praquela pessoa me achar um lixo e falar de mim para todo o resto do mundo, dizendo que eu sou um lixo humano, uma péssima jornalista. Também me culpo por não ser uma pessoa muito popular e engraçadona, daquelas que marcam presença e ninguém esquece. Eu sou praticamente invisível, uma farsa, uma pessoa que você conhece num dia e esquece no outro porque não tenho nada marcante, nem domino um assunto interessante pelo qual você vai me procurar para conversar por horas e horas até o dia amanhecer, tomando uma cerveja e acendendo cigarros um atrás do outro.

Saí de lá com uma receita e comecei a tomar dois dias depois. Não gostei do remédio... perdi a fome, a vontade de sexo e morria de sono o tempo inteiro. Oportunamente vi uma entrevista na Globo News sobre o uso indiscriminado de psicotrópicos. Eles citaram Torquato Neto...
"Quando nasci um anjo veio ler na minha mão

não era um anjo barroco, era um anjo muito solto

louco louco louco louco com asas de avião

e ele me disse e redisse consultando a minha mão

entre um sorriso de dentes

vai, bicho, desafinar o coro dos contentes!"

E disseram que o uso de medicamentos não é necessário em todos os casos. Todas as pessoas passam por fases de superação, durante as quais precisam enfrentar seus problemas. Eu fiquei convencida e abandonei o remédio. Por alguns bons meses me senti muito bem.
Até que comecei, de mansinho, a auto-sabotagem... quando me dei conta os malditos pensamentos já estavam instalados, tomando conta da minha vida sem que eu quisesse.
Sabe o que é pior? Saber que tudo está maravilhosamente bem na sua vida e que você não tem motivos para esses sentimentos, mas não consegue combatê-los, seja com reza brava ou tentando matar seu ego com budismo. Não dá! Ficar sentada comigo mesmo, contemplando as coisas sem julgá-las, dói demais quando você só consegue julgar a si mesmo e não vê uma saída com luz, praia, sol e uma mente legal que curte a vida sem se preocupar.
Não sei de onde veio essa preocupação excessiva, essa seriedade carrancuda e esse sentimento que me deixa corcunda de tanto me maltratar.

Só sei que há algumas semanas eu voltei ao mesmo consultório, onde só havia uma velhinha que perdeu a carteirinha da unimed e estava preocupada em esquecer o guarda-chuva, porque a memória dela já não a ajudava mais. Entrei na sala do médico e disse que continuava sentindo a mesma coisa e que queria outro remédio. Discuti um pouco sobre psicologia comportamental e sistemática e ouvi que sou uma pessoa com cultura e culta. Concordei com um sorriso amarelo, mas não quis dizer a ele que estava enganado, que eu era uma farsa e que isso era uma das coisas que mais me incomodava. Pra mim, todo mundo faz um julgamento da minha pessoa e eu posso ver pelos cantos seus risos e seus dedos me apontando, dizendo que eu sou um lixo de pessoa e de profissional, mas ninguém tem coragem de dizer isso na minha cara.
Eu sei, é bem egocêntrico pensar que ninguém tem nada mais importante ou interessante pra pensar ou fazer além de me julgar, mas é assim que eu vejo as coisas e é isso que eu quero mudar... só ainda não descobri como.

Pode ser uma questão química que com essas pílulas mágicas tudo vai se religar e funcionar normalmente, ou talvez chegue a hora em que eu precise enfrentar esse medo e, quem sabe, eu não consigo vencê-lo de vez e matar essas ideias insanas que nem camisa de força consegue deter.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Desatrofiando as asas

Levantei sem me preocupar com a hora. Fiz uma xícara de café, acendi um cigarro e sentei na janela do meu quarto, com as pernas cruzadas, olhando as pessoas andarem lá embaixo. Tão preocupadas! Eu não tinha preocupação nenhuma, a não ser a determinação de não me preocupar com nada, por pelo menos um dia.
Passei os dedos no cabelo, coloquei um cachecol, tirei o chinelo e pulei. A queda livre é como um grito surdo. O vento terminou de pentear meus cabelos e soprava em meus ouvidos. Antes que eu chegasse ao chão elas se abriram. Eu sabia que elas não tinham me abandonado, mesmo tão renegadas e atrofiadas elas ainda estavam lá. Voltei para o alto e voei sem rumo. Como ainda estavam fracas elas não aguentariam ir muito longe. Fui para o lugar mais alto que encontrei e me sentei. Queria aproveitar aquele momento, respirar profundamente e deixar cada momento registrado como uma fotografia. Era como se resgatasse uma sensação que estava perdida no passado e deixada apenas à lembrança. Chorei como uma criança, mas não sentia medo nem estava triste. Era intenso e eu precisava dividir aquilo com o mundo de alguma forma. "Tão grande que não caibo em mim", eu costumo escrever sobre essa sensação mas nunca soube explicar direito o que quero dizer com isso. Grande, mas de tão pequena não caibo em mim. Algumas vezes, quando vou dormir, tenho a sensação que ultrapasso a barreira da minha matéria e saio de mim. Não como uma alma saindo do corpo, mas extrapolando as barreiras e sendo maior que ele, como um contorno que é necessário para completar o desenho de quem eu sou: um amontoado que não cabe aqui dentro. É difícil pegar no sono nessas ocasiões. Fico com medo que o contorno se torne definitivo e visível para todos. Será que os outros também sentem isso e escondem seus contornos?
Uma música que eu nunca tinha escutado não me saia da cabeça, em inglês ela repetia um refrão com alguma coisa parecida com : "Last chance". Eu a ignorei. Não queria me preocupar, lembra?
Eu não percebi o tempo passar e já havia escurecido. Elas começaram a me puxar e eu sabia que precisava voltar. Deixei que elas fizessem o caminho. Eu tinha duas asas gigantes e coloridas. Quando botei os pés no meu quarto, elas se desfizeram. Centenas de borboletas estavam ao meu redor. Uma a uma, elas foram caindo. Uma a uma, elas se foram. Dizem que borboletas vivem apenas 24 horas. Elas viveram menos, mas pareciam realizadas. Então eu me dei conta que não mato mais borboletas, principalmente as do meu estômago. E todos os dias elas estão lá novamente.
Na outra manhã, acordei com uma revoada colorida me convidando para outro passeio.



Acho que está na hora de mudar o nome do blog.

PS.: Meu desafio insano foi uma farsa, não tive tempo nem disposição para colocá-lo em prática. Peço desculpas pelas expectativas criadas, se é que elas se criaram. Prometo ser mais confiável no próximo desafio (ou não). Melhor, prefiro pensar 10 vezes antes de propor um desafio.

domingo, 3 de maio de 2009

ressaca

sem condições físicas e psicológicas de escrever qualquer texto. Amanhã eu tento, juro!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Desafio insano

Depois de tomar umas cervejas com a Ale, tive uma ideia brilhante. Pelo menos foi o que eu achei. Resolvi me lançar, de cabeça, em um projeto solitário de jornalismo gonzo.
Lembro que li uma vez, se não me engano na Revista TPM, uma matéria de uma jornalista que passou um mês sem utilizar nenhum produto supérfluo. Se encaixam aí necessidades criadas pelo capitalismo, coisas que, sem as quais, as pessoas viviam muito bem há alguns anos. Um exemplo que eu lembro perfeitamente é o cotonete. (Percebe-se nesse caso o exemplo clássico de um produto que passou a ser mais conhecido pelo nome de uma marca que pelo nome do produto em si, que seria uma haste flexível de plástico com algodão nas pontas). Segundo a matéria, cotonete pode ser até prejudicial, já que, de alguma forma, a cera produzida serve pra proteger nosso sistema auditivo.
Minha irmã nunca poderia fazer um experimento desses. Eu explico: frequentemente chego em casa e ela está com um cotonete pendurado na orelha. É um vício. Uma caixa de cotonete por semana. O mais engraçado, e nojento, é que você encontra as malditas "hastes flexíveis de plástico com algodão nas pontas" jogadas por tudo quanto é lado. Nunca no lixo.
Minha ideia brilhante me levou, imediatamente, a vários dilemas. Estamos tão acostumados com esses tais produtos supérfluos, temos tantas necessidades, que fica difícil definir o que é supérfluo e o que não é.
Pergunto: cigarro é supérfluo? Bebidas alcoólicas são supérfluas? Usar o elevador é supérfluo? E andar de ônibus? Desodorante? Talco para chulé? Absorvente? E ter internet banda larga - sem a qual eu não poderia escrever aqui? Tenho aqui na minha frente um pinguim de "pelúcia" pra limpar meu monitor LCD, e aí? Meu Ipod? Celular? Brincos? E papel higiênico, meu santinho?
Eu não consigo responder a todas essas perguntas sozinha. Preciso de uma consultoria especializada em anti-supérfluos (tem hífem? preciso comprar um livro com as novas regras da ortografia).
Minha mãe sempre contou que ia pra escola a pé. Minha avó costurava as roupas de chita que ela e minhas tias e tio usavam. O material escolar era o básico do básico e levado dentro de um pacote de arroz. Nada de canetas de várias cores, cadernos da barbie, canetinha, mochila do seu desenho animado preferido. Refrigerante? Uma vez por mês quando meu avô ia pra cidade fazer o "rancho". Bala? açúcar derretido. OMG, poderei usar pasta de dente? Sabonete? Shampoo?
Como as pessoas viviam antes da industrialização? Não poderei ser tão radical. Produtos básicos de higiene estarão na lista, definitivamente. E alimentação? O que substituirá meu miojo?
Meu namorado vai detestar a ideia. As pessoas ao meu redor me acharão maluca. E eu nem vou poder discordar.
Mas o desafio começa depois de amanhã. Já que o evento do ano acontece no dia 1.º de maio e não é o dia do trabalhador, mas meu baile de formatura. Vou usar um vestido de bolinhas, fazer maquiagem e cabelo. Hoje já fiz pé e mão - leia-se tirar cutículas e passar esmalte, porque o resto já estava feito (piada sem graça, ok!). E também vai ter bebedeira até a hora que eu aguentar ficar em pé.
Também será excluída da experiência minha viagem pra Buenos Aires. Presente de formatura. Tudo bem que não vou fazer passeios turísticos, nem fazer compras - exceto o presente da minha irmã e da minha mãe. Vou viajar de avião, o que não deve se encaixar na experiência.
Tirando os quatro dias de viagem vou viver como uma monja por um período aproximado de 30 dias. E eu não sei se vou sobreviver, se vou seguir as regras à risca, nem como vou resolver todos os dilemas. O que sei, é que vou escrever sobre eles todos os dias aqui. Depois de amanhã. O que já torna tudo contraditório, pois vou usar computador e internet banda larga.
Medo!!!!

PS.: Desculpem-me pelos erros de português e pelo excesso de vírgulas. Como falei no começo do texto, estou levemente embriagada. Onde é que eu fui me meter?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Relação saudável

Eu e meu pai sempre estivemos em pé de guerra. Ele nunca acreditou em mim e eu sempre fiz de tudo pra ele quebrar a cara. Foi assim no vestibular de Jornalismo da Unicentro. Eram 10 vagas e ele falou que duvidava que eu passasse, queria que eu fizesse química ou nutrição. Eu passei, em segunda chamada, mas passei.
Quando eu fiz o Provar ele não me contrariou, até pagou a inscrição. Mas depois disse pra Giu que sabia que eu não ia passar. Eu passei e fui embora.
Esses são os acontecimentos mais importantes, mas em qualquer coisa era assim. Ele sempre me chamava de retardada e burra e eu só pra contrariar continuava trabalhando com ele e fazendo o melhor que eu podia só pra provar o contrário. Aí ele viajava, me deixava sozinha pra cuidar do restaurante, ou dos restaurantes quando eram dois. Isso eu tinha o que? 13, 14 anos. Eu fazia compras, tentava controlar os funcionários com minha credibilidade reduzida, porque simplesmente meu pai não acreditava em minha capacidade. Mas sempre dei um jeitinho. Faltava cerveja? Lá ia a Aline correr atrás, fosse pedindo entrega ou indo no boteco ao lado. Atendia 50 pessoas com uma puta dor de barriga pelo nervosismo de estar sozinha, cuidando de tudo. Nunca ninguém reclamou e eu cheguei a ganhar R$ 50 de gorjeta.
Quantas vezes meu pai viajava e cliente ligava porque estava em Guarapuava e queria comer, eu abria o restaurante, cozinhava, servia, cobrava e ia embora. Tudo sozinha.
Hoje eu vejo que ele confiava em mim, caso contrário não me deixaria com tamanha responsabilidade. Acho até que era proposital, ele sabe manipular muito bem as pessoas e talvez esse fosse o nosso joguinho, sem o qual nossa convivência não seria possível. Saudável jamais.
Lembro uma vez que a gente brigou feio porque eu fiz alguma fofoca pra minha mãe, devia ter falado que peguei ele com as mãos no peito da secretária. Ele disse que ia fechar o restaurante porque não dava mais pra conviver comigo. Então ele apagou a luz da placa e fechou a porta. Eu acendi as luzes e abri a porta. Ele apagou de novo. Eu acendi mais uma vez. E assim foi por meia hora. Eu era apegada ao restaurante, fazer o que? Dizia que odiava trabalhar por não poder ter uma vida normal como minhas amigas, mas não vivia sem.
Outra vez ia ter um jantar grande, meu pai sempre inventava umas promoções e a casa enchia. Ele comprou umas frutas pra arrumar uma mesa. Eu derrubei uma melancia e ele se descontrolou, me xingou de tudo um pouco e eu mandei ele à merda. Fui embora, juntei minhas economias e viajei pra Curitiba. Sem contar pra ele. Fiquei aqui umas duas semanas comendo só McDonalds e dormindo na casa de uma prima da Ju. Acabou a grana e eu voltei. Ele não pediu desculpas, mas eu também voltei a trabalhar.
Um dia, cansei de tudo. Como era impossível conversar com ele, escrevi um e-mail. Não lembro exatamente o conteúdo. Sei que eu falava sobre tudo o que pensava e sentia naquela época conturbada da minha vida adolescente. Tinha 17 anos. Mandei o e-mail antes de ir pra casa. Quando estava deitada ele ligou. Fingi que dormia. 5h da manhã o telefone tocou. Meu pai tinha batido o carro e estava no hospital. Acho que nunca me senti tão culpada em toda minha vida. Fui até o local do acidente, antes mesmo de ir pro hospital. Não sei como, mas ele bateu na traseira de outro carro - por sorte ninguém se machucou - e bateu num muro. Foram 17m de freada e quando o velocímetro travou ele estava a 100 km por hora.
Quando cheguei no hospital ele estava no ambulatório, um corte no supercílio e tomando glicose. Uma costela trincada. Se ele estivesse usando cinto talvez não tivesse sofrido nada. Ele me abraçou e chorou. Eu também chorei. Mas não falamos nada. Nem uma palavra. Nunca mais se tocou no assunto.
No mesmo dia eu tive que andar uns 5 km pra comprar uma cinta pra costela trincada, fazer compras e abrir o restaurante sozinha. Foi assim até ele se recuperar totalmente. Mas acho que ninguém nunca se recupera totalmente de um acontecimento como esse. Eu nunca me recuperei. Sei que de ruim a situação passou pra fudida. O carro, novo, não tinha seguro. Mas eu já era acostumada com esse jeito largado de ser do meu pai. Sempre foi assim e nunca vai mudar.
(Estou escrevendo demais, eu sei, mas eu preciso chegar a algum lugar, que não sei onde é).
Acho que o que eu quero dizer é que, por mais porra louca que seja o meu pai, ele é ele mesmo. Não se encaixa na sociedade. Não se encaixa no papel de pai. Não de um pai normal. Não me lembro de ele ter me perguntado algum dia como eu ia na escola ou na faculdade, qual era minha opinião sobre qualquer coisa, se tinha feito o dever de casa ou se precisava de ajuda. Ele sempre foi mais preocupado em aproveitar ao máximo a vida, sem pensar com o que poderia acontecer no outro dia. E eu acho que ele está certo, apesar de achar que jamais vou conseguir ser igual a ele. Mesmo porque, eu sempre tentei ser o oposto só pra provocar e gerar discussões intermináveis nas quais ele repetia incessantemente: você não sabe de nada. E, de fato, não o sei.
O que eu sei é que, convivendo com ele e, mesmo não sendo igual a ele, eu não sou igual a ninguém. Pelo menos não sou igual a nenhuma das meninas da minha idade e nem nunca fui há 10 anos atrás. Acho que os pais sempre tentam esconder os problemas dos filhos e eu estava sempre envolvida em todos os problemas da família, que pra ele nem eram nada de mais.
Ele é, no fundo, uma criança. E crianças são sinceras, boas e ingênuas. Lembro que um dia a Giu me falou que ele não poderia ser médico, ou nunca seria um médico rico. Atenderia todo mundo que precisasse, sem se importar se o paciente podia pagar ou não. Ele não se importa em receber contas, nem tampouco em pagá-las. E é verdade. Ele não se encaixa nesse mundo.
Mas hoje, ele acredita em mim. Ele tem esperança no meu sucesso profissional, mas não sabe que eu preciso que ele duvide de mim. Porque isso nunca vai mudar. Eu preciso desse impulso pra conseguir alguma coisa, só pra jogar na cara dele depois. Por estar na merda e enxergar em mim sua salvação, ele resolveu acreditar em mim. E hoje, pela primeira vez em tanto tempo, ele pediu desculpas por alguma coisa. Por não ter dinheiro pra me ajudar com as despesas da formatura.
Pai, isso não pode. Você precisa duvidar de mim, dizer que eu sou um lixo, pra que assim, eu encontre forças só pra te provar o contrário.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

cortes, conflitos e alfinetadas

Eu tenho náuseas. Não tenho fome, nem sono. Tirando o exagero, qualquer conflito ou possibilidade dele me deixa assim. Numa tensão só. Amanhã será um dia de guerra.
A costureira CORTOU o tecido de bolinhas do meu vestido - sim eu mandei fazer e foda-se o dinheiro. Tecidos de bolinhas não devem ser cortados. A não ser que se consiga costurar o tecido sem que NENHUMA bolinha esteja pela metade, o que é praticamente impossível em um pano cheio delas.
Aí eu vou ter que falar pra ela: Olha, estou pagando R$150 pra você costurar, exijo que você compre outro tecido e refaça essa merda. O único corte que eu admito no meu vestido é aquele na traseira, pra encaixar a cauda, ou o rabo, como desejar.
Mas eu tenho medo de gerar um conflito, de ela dizer que não e eu dizer que sim, e eu mandar ela tomar no cu, porque não tenho a mínima paciência pra gerir um conflito se o resultado não for aquilo que eu quero. Então, ela pode concordar comigo e costurar um vestido torto que vai cair e me deixar desnuda no meio do meu baile de formatura.
Acho que esse trauma surgiu com cabeleireiros. Da última vez que disse o que queria, ou melhor, que não era aquele corte que eu queria, depois de ele já ter secado meu cabelo, o cara fez uma merda tão grande que eu precisei de meses pra deixar meu cabelo crescer e levar pra outro cabeleireiro fazer outra merda. Mas dessa vez eu não reclamei, fui embora e pensei: vai crescer, eu corto de novo e tudo resolvido, não preciso exigir do jeito que eu quero. Pensei que o problema deve ser comigo, que não consigo explicar o corte que quero. É tão difícil?? Mais curto atrás e mais comprido na frente. Minha cabeça deve ser torta. Só pode.
É assim que as coisas se formam na minha cabeça, aliás, todas tortas. Eu invento que o problema sou eu. Mas eu não cortei aquele tecido. Eu comprei 3 metros de tecido pensando que, assim, não seria necessário ter costura NOS DOIS LADOS E MAIS O ENCAIXE DA CAUDA. Até o yahoo respostas ensina a fazer o maldito corte godê. Vou usar isso como argumento.
Sabe, me sinto bem melhor depois que desabafo por aqui.
Amanhã eu conto sobre o conflito, incluindo as espetadas eu vou levar da costureira que vai me odiar e me perfurar com todos os alfinetes que ela tiver.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Definição

Eu sou como um rascunho sem cor. Um desenho de um artista amador guardado no fundo de uma gaveta mofada. Às vezes ele abre a gaveta e pensa em melhorar um pouco as formas. Mas por mais cores que eu ganhe, por mais que as linhas do rabisco sejam completadas, eu nunca passo de um rascunho inacabado e sem cor, no fundo de uma gaveta cheirando a mofo.
Ele usou tinta. Pintou num papel canson. A folha absorve a tinta, mas nunca perde a essência das primeiras linhas pinceladas. Um desenho sem relevo. Nem bonito nem feio, tampouco, genial ou estúpido. Não impressiona. Pode até prender o olhar por milésimos de segundo, mas é logo esquecido. Não possui traços marcantes. São pinceladas desleixadas, como se o autor estivesse pegando no sono e deixasse o pincel cair despreocupado sobre o papel. Disforme. Sem conceitos e sem correntes.
Um desenho limitado àquele pedaço retangular e que, ao mesmo tempo, não se encaixa a ele.

domingo, 29 de março de 2009

Inspiração

Sabe o que eu queria fazer agora? Agora, mas seria algo que eu levaria meses, talvez anos, fazendo. Queria conversar com todas as pessoas que, de alguma forma, fizeram parte da minha vida. Aquela amiga de infância que eu nunca mais viu, aquela vizinha com a qual eu implicava, mas não vivia sem ela, aquele menino da rua pelo qual todas as meninas babavam só porque ele era bonito, mesmo que ninguém NUNCA tivesse conversado com ele? Aliás, eu falaria muito sobre isso com as meninas, como é que a gente podia dizer que gostava de alguém sem nunca ter trocado uma palavra com o moleque? Sem saber se o cara tinha alguma coisa interessante pra falar, se saberia nos compreender quando estivéssemos surtando por causa de uma prova difícil na escola (se levarmos em conta que naquela época essa era nossa principal preocupação), na TPM, ou que não ficaria surtado quando a gente simplesmente não quisesse vê-lo pra ficar comendo brigadeiro e jogando conversa fora com as meninas. Como é que a gente se dizia tão apaixonada por um rostinho bonito sem nem sequer saber se ele tinha potencial pra aguentar nos ver amadurecer?
Também tem as pessoas com as quais eu fiz cursos de inglês, informática, artesanato e aquelas coisas inúteis que minha mãe me obrigava a fazer pra não ficar em casa enchendo o saco. Aquela professora que me adorava e aquele professor que sempre implicava comigo. Aqueles parentes distantes que só encontro em casamentos e funerais. As amigas que até poucos anos iam onde eu estivesse para conversar, pra dar colo ou pra tomar um banho de chuva. As cozinheiras do antigo restaurante do meu pai. Os estagiários do departamento ao lado do meu, na Unicentro. Aquela amiga das minhas amigas que eu nunca dei chance de aproximação, por pura implicância. Aquele amigo com o qual eu nunca mais conversei e que, por algum motivo que eu nem imagino qual seja, a gente finge não se conhecer quando nos cruzamos.
Excluí dessa lista pessoas com as quais eu não troquei mais de cinco dúzias de palavras, sem contar os artigos, em uma única conversa. Por algum motivo acho que as pessoas com as quais troquei menos que 60 palavras não têm potencial pra suportar uma conversa tão longa quanto a que eu quero ter. Não existe teoria ou comprovação, mas eu preciso impor limites. Eu até pensei em estabelecer uma margem maior de palavras, mas lembrei que essa ideia de conversar com alguém, virar as costas e pensar: ta aí uma pessoa que eu nunca mais vou ver na vida, não é minha.
Bom, eu sentaria com essas pessoas embaixo da pereira que existiu durante muito tempo em frente à minha casa. Ela foi das poucas árvores do terreno que eu não consegui escalar, porque os galhos eram altos. É uma pena que essa árvore tenha sido derrubada para a construção de mais um anexo da minha casa. Ela esteve lá desde que minha casa era uma meia-água, eu devia te uns três anos quando fui morar lá, até depois de se transformar em uma casa inteira com telhado invertido em formato de asas. Era assim que eu enxergava.
Comendo uma pêra dura e suculenta - que eu nunca mais encontrei igual - eu conversaria com elas sobre as coisas que aconteceram na minha vida desde que a gente deixou de se falar e também sobre coisas que aconteceram antes disso. Queria saber o que elas fazem hoje, porque escolheram ser isso ou aquilo e o que elas pensam da vida. O que elas pensam quando chegam em casa cansadas, quando estão estressadas, do que têm medo. Queria dividir sonhos, os realizáveis e aqueles sonhos malucos, que todo mundo sabe que nunca vai acontecer, mas para os quais faz planos detalhados com estratégias mirabolantes e engraçadas. Eu ouviria horas esses relatos. Eu gosto de ouvir o que as pessoas têm a dizer, principalmente aquilo que elas quase nunca falam porque acham idiota. Essas são as ideias mais preciosas de uma pessoa. É o melhor combustível pra fazer qualquer ser humano pensar que vale a pena continuar vivo.
Eu também falaria horas. Contaria o que mudou na minha vida, que nada é o que eu imaginei que seria, mas que tudo é mais lindo quando a gente não fica se cobrando daquilo que poderia ter sido ou do que poderia deixar de ser. Eu contaria as coisas tristes e choraria, eu também o faria ao ouvir as suas histórias tristes. Assim, eu as sentiria mais intensamente. Falaria sobre o que eu penso hoje, sobre o que pensei um dia, sobre o motivo da mudança de opinião e de outros pontos de vista. Com as conversas, eu queria mudar de opinião o tempo todo e, no final de tudo, eu queria muito que minha opinião fosse uma junção de um pedacinho mínimo do que cada uma delas falou pra mim. Se eu pudesse, cada pedacinho desses seria depositado em uma caixinha. Quando eu tivesse uma dúvida, não soubesse o que fazer em alguma situação, eu chacoalharia a caixinha e de lá sairia não uma resposta pronta, mas inspiração.

sábado, 28 de março de 2009

quanto ao vestido da formatura...

... nem vai mais ser aquele, a mudança consumiu todas as minhas economias(?) e eu não tenho grana pra mandar fazer.
Na verdade, eu saí e me embebedei uns 23 dias, dos 30 que estive em férias - ainda faltam 4 - e, como vocês devem supor, gastei muito dinheiro com isso.
Estou satisfeita com o resultado. Devo ter engordado os 3 kg que tinha perdido nos últimos 4 meses e matado mais uma porção dos meus já raros neurônios. Mas quer saber? Eu me diverti! E não foi pouco, não. Ri horrores, falei muita, mas MUITA merda, saí de bar e dei uma volta na quadra correndo, estive o tempo todo rodeada por pessoas queridas.
Não quero escrever muito, amanhã vamos nos mudar e eu estou depressiva. Gosto muito desse apartamento e moro aqui há mais de quatro anos. Me apeguei. Fazer o que? Dizem que é comum que todas as pessoas do mundo fiquem arredias à mudanças e, como parte desse senso comum eu estou com um puta aperto desgraçado no peito. Mas passa... passa, eu espero.
Alguém me abraça, por favor?
Mãe?

sexta-feira, 20 de março de 2009

sábado, 28 de fevereiro de 2009

sem-teto

Minha principal ocupação do meu primeiro dia das merecidas férias: procurar um lugar decente, bem localizado, cuja via pública não seja frenquentada por prostitutas, traficantes, nem por gente feia. Ok, essa última característica não foi imposta por mim. Na verdade, a segunda característica também não me causa grande repulsa. Pensando bem, nem a primeira.
Mas voltemos ao objetivo primeiro: achar um apartamento. Estamos à poucos dias do despejo e, apesar de muitos já terem cogitado a ideia, não, não fomos expulsas.
Todos os locais habitáveis estão longe demais, ou pra uma, ou pra outra. Quando não estão longe, são caros. Quando não são caros, estão mal conservados. Quando são lindos, com boa localizados e aluguel barato, o preço do condomínio me faz pensar: por esse valor deve ter um mordomo pra cada morador, e eles servem café na cama, todos os dias.
Aí a busca parece infinita. Segunda, aliás, vou precisar teletransportar pra conseguir visitar todos os apês que marquei.
Eu sei que é a maior besteira do mundo, mas eu queria um conto de fadas.
Encontro o apartamento perfeito, ele é tão lindo e tem exatamente os móveis que nos faltam. A pintura da sala é toda estilosa, o banheiro é bem iluminado, tem uma parede com espelho do chão ao teto, banheira com hidromassagem, a cozinha é retrô, uma sacada onde eu possa colocar cadeiras e que tenha a vista de uma praça, ou parque, onde eu vou sentar nos finais de tarde de domingo e tomar uma cerveja, bem tranquila, e me sentir em casa.
A locação não será por imobiliária e o proprietário não exige fiador de Curitiba e até aceita seguro fiança. Mas ele vê que eu combino tanto com o apartamento, que resolve deixar tudo pela metade do preço, porque sabe que eu vou cuidar daquele lugar como se fosse minha casa. O que é quase uma verdade, ele foi feito sob medida pra mim, só faltava encontrá-lo.
Então eu começo a mudança no outro dia, todos os meus amigos me ajudam a encaixotar minhas tralhas e arrumar tudo bonitinho no meu novo lar.
O mais importante: meus amigos estarão bem perto de mim, não exatamente do outro lado da rua, mas a uma quadra de distância e, quando eu quiser conversar, fumar um cigarro ou comer um miojo, é só andar poucos passos e apertar a campainha.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sky is over

Everybody knows
Everybody knows
That you cradle the sun, sun
Living in remorse,
Sky is over,

Don't you want to hold me baby
Disappointed, going crazy

Even though we can't afford
The sky is over

Serj, I love you!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

mais uma sobre roupas de astronautas

Queria óculos que mostrassem cores fortes, que fizessem sentir vibrações, cheiros agradáveis, toques de vida, sensações esquecidas. Mas aí seria uma máscara. Melhor, uma roupa. Roupa de astronauta. Essa já grudou na pele. Não consigo mais tirar. Não é como super bonder que descola com água morna e um pouco de paciência. Dia desses tentei insistir um pouquinho mais e arranquei um pedaço da pele. Dói.
Queria lembrar o momento exato que parei de ver as coisas com empolgação e esperança. Sabe, talvez seja desses traumas que a gente resolve com um pouco de terapia e remédios tarja preta. Bons tempos aqueles de ocadil com vodka. Piadas infames que faziam brotar lágrimas de risos.
Hoje é tudo assim, tão indiferente. Sabe aquela alegria de olhar o mundo? Acordar abrir as cortinas, depois a janela, espreguiçar, ver o cachorro vir correndo ao seu encontro. A maquiagem e o cabelo já estão prontos. Não precisar de academia pra estar gostosa. Nem de cremes e perfumes pra ter a pele sedosa e aquele cheirinho bom. Tanto filme que tem isso. Acho que na verdade são desenhos animados. Mentira! Esses comerciais de suco de soja, ou de suco de laranja com gomos, também tem presunto de peito de peru, margarina com ômega 3, maionese de leite, light e sem gordura trans.
Tudo é tão perfeito e nada dá errado. O pão nunca cai, que dirá com o lado da margarina pro chão. Os personagens nunca estão de ressaca, com a cara amassada, maquiagem borrada, lente embaçada. Você esbarra no copo de suco de soja light, ele quebra, suja o chão e a roupa amassada que você colocou pensando: será que tá só amassada ou eu esqueci mesmo de lavar? Não, isso não acontece. Não nesse mundo aí que nem existe.
Pronto! Será que descobri? Não podem ser só essas coisas fantasiosas que a gente vê todo dia que deixam a gente assim, sem paixão pela vida e pelas pessoas. Não! Não pode!
Tem que ter uma explicação mais racional. Mas eu não sei. Não sei de nada. Só sei que eu queria sentir uma paixão intensa por essa vida, já que é só uma. Mas é tudo tão insosso. Eu sei, dá preguiça. Eu dou preguiça. Mas não queria ser assim. Queria essa lente "mental" que faz encarar a vida de uma forma genial. Deve estar em falta no mercado. Pode também ser um chip colocado em um número restrito de pessoas. Eu não devia estar na lista. Ou o meu deu pau. Entrou água, desconectou alguma coisinha ali, tinha defeito. Mas daí vão dizer que colocam defeitos pra fazer alguns testes. E quando não colocam, os defeitos aparecem de qualquer jeito. Falhas de percurso sempre acontecem.
Nem chorar mais eu consigo. Aí preocupa. Tem que ter emoção na vida. Não uma emoção eufórica de missão cumprida que dura 5 minutos e que não passa de adrenalina manipulada. Aquela emoção que brota e que persiste. Um incômodo gostoso, que eu não sei explicar, já que não posso sentir. Mas já ouvi falar. Não necessariamente ouvi, devo ter lido em algum lugar. Mas não lembro. A memória não dura quando não há emoção.
Não entendo mais nada. Não tento entender nada, nem sei se quero. Aí está! O problema. Não a solução.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Zen-Budismo

"Quando nos deparamos com o sofrimento humano, é mais importante agir com compaixão do que questionar a posição política daqueles a quem estamos ajudando." (Dalai Lama, O Livro de Dias, Sextante)

Eu comecei há pouco tempo. Foi uma mistura de curiosidade e necessidade. Já fui católica por imposição, era criança e até gostava, mas nunca consegui me encontrar. Participei de retiros na igreja presbiteriana. Também fui em centros espíritas. Mas nada me completava, não me sentia uma pessoa melhor.

Até que dia desses resolvi conhecer o Zen-Budismo. Cheguei, tirei os sapatos, sentei desajeitada no zafu (uma almofadinha preta e redonda, com uma fitinha branca pra marcar a posição), não consegui fazer a posição certa com as pernas. O monge disse que é normal, mas logo acostuma. Fiquei ali, 40 minutos meditando. Tinha que me concentrar na respiração, olhar em um ângulo de 45º, com os olhos semi-cerrados, sem me concentrar em nenhum objeto específico. Ficar ali e contemplar os pensamentos, sem julgá-los. E como isso é difícil. Julgamos tudo, o tempo todo.
É tão difícil controlar os pensamentos, só contemplar, como em um espelho. Aí vem a dor, o desconforto. Então você levanta e anda, meditando. Meio passo a cada respiração completa, por mais 40 minutos. Senta, posiciona, coluna ereta, respiração abdominal, olhando pra nada, e os pensamentos voando, você brigando pra não julgar.
Todo mundo se reúne, toma chá e conversa. O monge explica algumas coisas, tira dúvidas.
Tudo na vida tem sofrimento, precisamos aprender como não deixar fatores externos interferirem em nosso equilíbrio. Como é difícil.
Sabe o que é mais legal, o Zen-Budismo não diz o que você deve ou não deve fazer. Tem seus rituais, é preciso respeitar. Mas é só você, durante o Zazen, conhecendo, contemplando. Encontramos nosso equilíbrio sozinhos, ninguém nos diz o que fazer ou o que não fazer, o que é pecado e o que não é, se vamos para o céu ou para o inferno. É encontrar agora, aqui, durante a vida, nosso equilíbrio. É nos tornarmos pessoas melhores, mais criativas, mais atenciosas, mais solidárias e, porque não, mais humanas.
No meu segundo dia, foi tão difícil, eu senti tanta dor. Não conseguia me concentrar em nada, não consegui ficar parada. Mas foi um aprendizado tão grande, sobre limites, sobre a necessidade que todo mundo tem de parar por algumas horas e contemplar sua vida. Quem faz isso hoje? Quem para? Quem se importa? Quem dá atenção?
A conversa com o monge, dessa vez, foi sobre ego. Eu tinha uma idéia totalmente errônea sobre o ego, nem vou explicar porque dá vergonha. Ele explicou que nosso ego é feto de lembranças. Por meio delas traduzimos o mundo a nossa volta. Se uma pessoa faz uma sacanagem um vez com você, ela será pra sempre sacana. Mas ela não é aquela sacanagem, ela é mais e ela pode mudar. Por que não? Sem querer vamos criando nosso mundo, de acordo com nossas percepções que, na maioria das vezes, não são reais. Então, fodeu tudo. É preciso destruir nosso ego. É preciso transcender.
Eu me encontrei e aguardo ansiosa pelas duas horas semanais que passo na Praça do Japão, meditando.

Pode ser que eu tenha falado alguma besteira, mas ainda tenho muito o que aprender e tenho vontade disso, talvez o mais importante de tudo. Para saber mais, clique aqui.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ela, de novo!

Eu sempre procuro estar rodeada por loucos, pois sempre achei que minha loucura era pouca e precisava de mais combustível pra incendiar tudo de vez. Amo pessoas loucas. Elas me inspiram, me mostram mundos diferentes em coisas que antes passavam despercebidas. As pessoas loucas tem um quê inexplicável, mas que me atraem, como se estivesse ligada à elas por fios, teias. Insanos seduzem, puxam, sugam, são redemoinhos aleatórios. Em um mundo frio, eles são quentes. Eu estou imersa em um universo de loucos.
Hoje eu me descobri uma louca de pedra. Mas é uma loucura inofensiva, daquelas que só fazem mal a mim, sometimes, ou quase todos os dias. Mas eu não vivo sem ela. É uma coisinha meio incômoda, mas indispensável. Sempre me enche de caraminholas, manias, neuras. Mas me permite sempre fazer coisas impensáveis para pessoas de plástico (ah! as conversas com os loucos no bar). Eu tenho muito sangue correndo nas veias, dos meus olhos escorrem muitas lágrimas, eu tenho medos, inseguranças e muita sensibilidade.
A loucura te põe em cada uma. São verdadeiros labirintos com muitas luzes, cores, cheiros, gostos, toques e vida. Faz enxergar coisas que não existem e que por fim se tornam reais. O amor é indispensável à loucura. Afinal, quem, em sã consciência, se entregaria ao amor. Essa sementinha no estômago que cresce e toma conta do seu corpo. Envolve dor, incerteza, insegurança, ciúmes (mas nunca posse). São pessoas, coisas, atos, sons, extremamente apaixonantes e tãooo, mas tãooo loucos. A loucura, meu Deus, faz tudo parecer tão desconexo e te obriga a procurar pelo encaixes, mesmo quando você sabe que eles não existem. Aí, você inventa um remendo e tudo fica tão lindo, e perfeito, e claro. Dá vontade de abraçar o mundo e de chorar, porque aquilo, só os loucos conseguem enxergar. É um sentido que não faz sentido nenhum, pra ninguém e, por isso mesmo, é tão óbvio.
Aquela vontade de chorar engasgada, aquela tristeza por coisas ínfimas, que são perseguidas por alegrias subestimadas, como aquele arrepio na espinha de uma lembrança que passa correndo pela cabeça. Quando são, você não a percebe.
O desejo de gritar, se descabelar, subir em uma árvore -- como você fazia na infância -- e comer uma fruta. Por que tantas pessoas negam à essas coisas e fingem que não é nada com elas? O que elas sentem? Como elas sentem o mundo, se não é dessa forma descontrolada e desordenada da loucura?
A falta de impedimento pra falar o que se sente, pra falar do que corrói por dentro, de ser humano. Falar, fazer, cair, levantar. Jamais, mas jamais, desistir. Mudar de idéia, mudar de rumo, essa é uma coragem presente somente nos insanos. A loucura vem acompanhada de medo, mas um medo que não cala, que te faz seguir em frente, pegar um atalho, voltar, repetir. Não existe erro ou acerto. Existem momentos que não voltam, coincidências e destinos. Mas é incerto, é louco, é vivo, é lindo!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Loucura

"O amor nem sempre é loucura". Minha mãe é sábia. Não só a minha, mas a sua também. Sabedoria de mãe. Elas sempre sabem a coisa certa para nos dizer, seja para nos confortar ou nos fazer estremecer.
Minha psicóloga um dia me disse que eu era condicionada ao sofrimento. Ela sempre vinha com aquela pergunta que me deixava calada, pensativa e até com vergonha, sem poder rebater. "Isso não é masoquismo?". Depois de tanto ela me fazer a tal pergunta, eu comecei a fazê-la frequentemente quando meus atos ou pensamentos pareciam masoquistas. Mas eu fazia de uma maneira meio automática, sem compreender muito bem. Mente rebelde.
Até o dia que minha mãe disse essa frase, tão simples e com tanto significado. A diferença, talvez, esteja no fato de ela saber muito bem do que fala e por me conhecer mais do que ninguém.
Eu entendi, finalmente. Mas surgiu outro problema, maior, que eu não sei resolver.
A loucura me fascina.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

causa mortis

Em algumas conversas as pessoas acabam contando coisas da vida dela que, às vezes, você nem está muito interessado em saber, mas ouve, afinal, ela deve estar precisando falar. Sabe? Eu adoro essas conversas. Gosto de ouvir. Vez ou outra dou até uma opinião, mas nada muito relevante, que dirá genial. Na maioria das vezes, só escuto mesmo. Penso que, nesses casos, o que a pessoa mais precisa, é botar pra fora. Eu sou meio assim também.
Numa dessas conversas, em 2005, lembro bem, estava no gabinete da minha orientadora. A gente criou um vínculo muito forte e, como eu também era sua monitora, ela sempre desabafava comigo. Acho que fazia isso porque sabia que eu só ouviria, sem dizer o que ela devia ou não fazer e, principalmente, guardava tudo pra mim. Sei disso porque um dia ela disse que gostava de mim por eu ser uma pessoa discreta. Devo ser, de certo modo. Esse texto, porém, pode ser um atestado de indiscrição, já que vou relatar uma de nossas conversas.
Não sei como chegamos ao assunto, mas ela falava do seu pai. Disse que ele era uma pessoa muito correta, justa, mas que guardava muito suas opiniões, ouvia muito desaforo calado e, pra ela, isso originou o câncer no esôfago que acabou por matá-lo. Ela via o tumor como resultado do acúmulo de tudo que ele havia calado. Era ali o lugar onde todas as coisas não ditas foram guardadas e, com o passar dos anos, se transformaram naquilo que o levaria à morte. Ele não fumava.
Aquilo poderia ser insignificante para qualquer pessoa, mas não o foi pra mim. Naquele momento, eu descobri qual seria a causa da minha morte. Um câncer no esôfago. Sim! Onde todos os resíduos de palavras não ditas, estranguladas em meu peito, vão se acumular e, posteriormente, em uma mutação lenta e silenciosa, modificarão minhas células e se transformarão no meu tumor. É por isso que eu fumo e não terei câncer de pulmão. É por isso que eu bebo e não terei cirrose.
Não! Minha morte vai, ironicamente, nascer no meu esôfago. Porque eu sou assim. Considero-me uma pessoa sincera, mas, quando se trata de sapos, eu sempre os engulo. Já perdi as contas de quantos foram deslizando seus "dedinhos" gelados garganta abaixo e, embora tivessem lutado, acabaram engolidos e nunca arrotados.
Sabe qual o problema? Todas as coisas não ditas levam consigo rancor, mágoa, insegurança, medo, orgulho ferido. Nunca uma pitadinha de qualquer coisa boa. Esses resíduos amargos - posso até senti-los vez ou outra - é que irão se acumular, um a um, no meu esôfago. O caminho que leva ao centro das minhas emoções - que, como já falei anteriormente, fica no estômago - e que também poderia vomitá-las, será aquele que, um dia, há de me matar.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

convenções e contradições

Teve um esses dias, de uma amiga que eu amo. Não fui porque não pude, mesmo. Tava até o pescoço com as coisa do TCC e simplesmente não dava. Eu tinha que estabelecer um objetivo na vida e deixar de lado essa maluquice que tentava me impedir de terminar a faculdade(era um medo gigante de largar a vida de faculdade, depois de sete anos). Dessa vez não teve como. Eu tive que ir. Me senti a Carrie, do Sex and the city. Indo de táxi, sozinha, para um casamento. Eu ia encontrar alguns conhecidos e, afinal, sou uma mulher moderna e resolvida. Chegando lá, eu era a única solteira, sozinha e rodeada por casais felizes. Olhando tudo aquilo, minha amiga com o sorriso na orelha, me senti feliz por ela e por mim.
Foi o primeiro casamento de uma amiga. Eu achava que ia pensar: Meu Deus, minhas amigas estão casando e eu estou ficando pra titia.
Não foi nada disso! Eu tive certeza que nunca estarei numa situação dessas. Tá, falando assim, parece que eu acho ruim, mas ruim não é o adjetivo exato. Cada um pensa do jeito que quiser, tem sonho de fazer faculdade, casar, comprar seu apê e ter filhos.
Eu não! Há um bom tempo aliás. Lembro de uma conversa que tive com a minha mãe. Eu tava contando que meu então namorado tava querendo morar comigo. Ela perguntou o que eu achava e eu disse que não queria. Ela me olhou espantada e perguntou: Então o que você tá fazendo com ele? - Ué mãe, sexo. Depois de um olhar de censura e um pouco de risada, eu expliquei que quero muito mais da vida e que, morando com alguém aos vinte e poucos anos, minhas chances de fazer tudo o que eu quero seriam podadas, se não completamente, pelo menos pela metade. Expliquei que gostava dele, mas que meus sonhos iam muito além de casar e ter filhos. Não nego que eu gostava de estar com ele e achava que ia ficar com ele pra sempre. Mas aí, morar junto, assim, antes de ter feito tudo que eu tenho necessidade de fazer sozinha, já é demais. Eu preciso me conhecer muito melhor, encontrar meu equilíbrio, me amar mais, viajar mais, conhecer mais pessoas. Quero, sozinha, comprar meu apartamento, meu carro, viajar e ter meus dias sozinha em casa, tomando vinho e lendo um bom livro, sem roupa e quietinha.
Então aquele não era o momento. Agora eu vou parecer um pouco contraditória, mas é preciso lembrar que aquele não era o momento. Eu quero, sim, um dia, quem sabe, morar com alguém. Mas não quero casar. Casamento-convenção, na minha vida, sempre remeteu ao fracasso. Você pode julgar, dizendo que eu sou traumatizada porque o casamento dos meus pais não deu certo. Ok, esse pode ser um fator de influência, mas não é o único. Pra que casar? Gastar dinheiro, fazer uma cerimônia pra mostrar pra todo mundo que o amor dos dois é único e eterno. Eterno o caralho! Eu não vou prometer uma coisa que não sei se vou cumprir, nem ouvir uma coisa que não sei se o cara vai poder cumprir. Não boto minha mão no fogo por ninguém, também.
Quando eu for morar com alguém, vai ser porque eu quero estar ali e porque eu sinto que a pessoa realmente me quer do lado dela. Enquanto esse sentimento durar eu fico por lá. Quando eu perceber que o sentimento está dando espaço à posse ou ao hábito, eu faço minha trouxa e vou embora. É por isso, porque o amor só existe quando duas pessoas se doam, completamente, que eu não preciso provar nada pra ninguém nem fazer juramento nenhum. E porque eu entendo que um dia ou outro as coisas podem mudar, tudo muda, o tempo todo, até as convenções. Minha mãe vê de um jeito, eu vejo de outro, mas respeito muito o que ela pensa. O que os outro pensam sobre isso também, que fique bem claro.
Se prestarmos um pouco mais de atenção, nem tudo é tão sofrido quanto a gente pensa, talvez a gente até acabe tornando tudo mais sofrido do que deveria ser. O que eu realmente quero dizer é que, sofrer, meu bem, não é tão ruim assim.

No final, me senti muito bem por estar ali, vendo minha amiga realizar o seu sonho, sozinha e com toda a independência pra sair de lá e ir pra outra festa e não ter certeza nenhuma, de nada.


Soneto de fidelidade - Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Descompasso

Será o ambiente que se molda ao ser humano, ou o ser humano que se molda ao ambiente? Essa pergunta lhe surgiu quando olhava o forro mofado, as teias de aranha aos cantos, a cortina encardida e os móveis deteriorados do seu quarto. Quarto, aliás, era o último nome que alguém daria para aquele cubículo 3x2, no qual três pessoas precisariam se encolher para dividir espaço, de forma bem desconfortável se fosse levado em conta o cheiro fétido que deixava ainda mais clara sua falta de asseio.
O pensamento sobre sua gaiola logo desapareceu para dar espaço ao sentimento que comprimia seu peito há tanto tempo. O sentimento, ou a total falta dele, por qualquer outro ser humano. Era como se todos, até aqueles que tivera amado tanto até alguns anos - que pareciam dias, já que o tempo também não lhe representava mais muita coisa - não fizessem mais sentido. Essa indiferença era mais aterradora que o ódio. Ele sofria, por sua incapacidade de apego, de afeto, por não mais conseguir amar. Porém, jamais pela falta de amor.
O peso sobre seu peito era tão grande que parecia grudar-lhe na parede ensebada e não o deixava levantar. Também não lhe agradava a idéia de sair dali, encontrar pessoas, encarar a luz do sol e toda a vida das ruas.
Aqueles a quem já tinha amado e que, possivelmente também o amaram um dia, julgavam suas atitudes egoístas. Mais egoístas que egocêntricas ou resultado de um distúrbio mental.
Ele simplesmente entedia que a realidade os fazia assim, que qualquer comportamento diferente ou instabilidade afasta as pessoas daqueles que não mais se encaixam aos seus padrões. Eram todos eles também egoístas, porque não iriam deixar seus afazeres, suas vidas tão bem definidas para se entregar ao trabalho de cura de alguém em quem já haviam perdido a esperança, muitos, sem jamais tentar entender.
Não conseguia lembrar o exato momento em que tudo começara. Sentia, porém, uma culpa por algo que devia ter feito, mas que não sabia exatamente o que era. E qualquer pessoa a sua frente fazia explodir a culpa em seu peito, como se estivessem a fazer uma massagem cardíaca sem necessidade, que só servia para deixar sua respiração descompassada, levando-o à sufocação.
Teria, então, seu ambiente se moldado a sua necessidade de exílio? Ou teria aquele ambiente lhe trazido uma culpa já esquecida, que, bem sabia, podia não ser sua?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Obamis



Tirei do Blog do Zeca Camargo que, por sua vez, tirou daqui!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

OH MY GOD!

Little Joy em Curitiba, dia 4 de fevereiro.

Sai daqui, filho da puta!

O medo é o sentimento mais filho da puta que existe. Ele quase acaba com qualquer pessoa: faz mal pro pulmão, pro coração e pros músculos que ficam tensos, também tira o sono e causa pesadelos, além de ser a maior e mais eficaz forma de controle social. Aí, quando você não tem mais escapatória e tem que enfrentá-lo, sabe o que o infame faz? Sai correndo, como se fosse um pit bull que, por ironia do destino, se cagou de medo de um gato eriçado e resolveu colocar o rabinho entre as pernas. Capaz de gemer e se fazer de vítima, no final da história. Medo, sai de mim!
Mundo, enfrentai seus medos, eles não são de nada.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Acabou!

Sei que estou atrasada, mas ainda preciso falar das coisas boas que aconteceram em 2008. Não que seja uma obrigação e que eu possa ser punida, caso não relate fatos nem tão interessantes para a maioria das pessoas. Mas já que estabeleceram um calendário e a gente, querendo ou não, considera cada amontoado de 365 dias num compacto de fatos pra se basear e dizer, futuramente, que em 2008 aconteceu em minha vida:

O último ano da segunda faculdade. E posso afirmar que foi o melhor deles. Foi o ano mais produtivo da faculdade, durante o qual fiz as coisas que mais gostei, rodeada de pessoas fodas. Dois semestres inteiros dedicados à TV Co:::unicação. Nem as férias se salvaram, graças ao Festival de Inverno em Antonina. Também teve Desafio da Notícia da Band, o trabalho de conclusão de curso, disciplinas laboratoriais que exigiram MUITO tempo e dedicação. Também deu muito medo abandonar a vida universitária depois de sete anos, exatamente por isso teve crise existencial, dúvida, certeza, dúvida, choro, risos. Foi massa!

Foi o ano da liberdade, da descoberta de possibilidades infinitas, de não ter hora pra voltar, de não ter que dar satisfação, de conhecer muita gente, de não ter pretensão nenhuma e de pretender muita coisa. De ganhar e perder e achar graça no final.

Conseqüência da liberdade, vieram os novos amigos, os desconhecidos que se tornaram queridos, as conversas desconexas em mesas de bar. As conversas profundas bebendo vinho e chorando. As conversas sérias que terminavam em gargalhadas. Os novos amores, os velhos medos. A mudança na forma de ver e enfrentar os fatos.

Vieram as quedas, as lágrimas, os choros, as brigas, a vontade de desistir de tudo e se trancar em um quarto escuro ficar ali pra sempre. Também teve decepção. Como é triste deixar de acreditar em alguém que, geneticamente, deveria ter crédito inabalável. Então veio a raiva, depois a negação e, enfim, o perdão. Aprendi a entender melhor as pessoas, do jeito que elas são, com todos os seus traumas, medos, aflições, manias, defeitos, qualidades. Analisei friamente motivos que levam as pessoas a fazer o que fazem, a ser do jeito que são. Cheguei a conclusão que minha análise não vai mudar e que eu levo muito em conta todos os meus traumas, aflições, manias, defeitos e história. Aprendi a respeitar, a aceitar, a perdoar e ainda tenho muito que aprender para ser uma pessoa melhor.

Em 2008 a Giu veio morar comigo. No começo foi difícil, a gente ainda briga, menos. Mas eu aprendo demais com ela, todo dia. Ela teve um papel fundamental na manutenção da minha sanidade e eu fico muito orgulhosa de sermos irmãs que se dão tão bem e são amigas.
As pessoas importantes também me salvaram da monotonia e da insanidade, como elas sabem (assim espero) do seu papel em minha vida, citarei apenas nomes, caso contrário vou escrever um livro com diálogos fundamentais e histórias imensas. São vocês, meus amores: Mãe, Pai, Giu, Ale, Rodox, Edi, Amanda, Giova, Marjo, Mairon, Leo, Tati, Rubão, Kel, Ivan, Gungi, Fabio, Mari, Zé, Eder, Mari, Angel, Myrian, Lucas, Mya, Re, Ce, Ju... perdão se esqueci alguém. Mas gente, vocês são fodas!!!!!!

As viagens, pra Guarda do Embaú, Praia da Vila, Guarapuava (também conta), Antonina, Antonina e Curitiba (ahan!). Cada lugar, cada pessoa, era lá que eu deveria e queria estar.

Eu cresci, voltei a ser criança e, mais do que nunca, vivi. Cada minuto, cada momento, por mais simples que fosse e, como a Amanda diz, mesmo em momentos tristes, eu tava vivendo, intensamente, da maneira que tem que ser.

Pra 2009, estabeleci metas, coisa que nunca fiz antes. Vou trabalhar como jornalista, viajar, fazer meu curso de corte e costura e criar a Javalee, não vou cair na monotonia e, em momento nenhum perder a autonomia e nem minha liberdade. Também vou fazer academia e voltar pra fisioterapia, fazer uma tattoo, ler mais, assistir mais filmes, ouvir mais música e matar o medo. O resto eu decido na hora.

PS.: Caguei pras novas regras de ortografia. Meu Word ainda é burro.

Agora chega de "meu querido diário".

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As músicas que não cansei de ouvir

É até meio que um pecado não colocar todas, mas ninguém vai assistir todos os vídeos mesmo. Então vão as principais músicas que fizeram a trilha sonora de 2008.

Essa eu ouvi muito e foi umas das que mais gritei. Da Regina ainda tem Après Moi, Rejazz e ela com os Strokes em Modern Girls & Old Fashion Men e maissss...


Da Relespública eu ouvi tudo. Mas S.O.S. é do cd novo e minha preferida, mas também se destacam Garoa e Solidão, Nunca Mais, Dê uma chance pro amor e Marcianos.



PS.: Eu tava aí no Guaíra =)


Marcelo Camelo:Janta, Santa Chuva e continua...
A qualidade da música não tá boa, mas é muito fofo.



The Strokes
You only live once, mas não tem como por o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=-TmzN1ekv-k&feature=related
Então, a precursora:



Cat Power - o vídeo não tá disponível, mas I believe in you foi a melhor.

Little joy, todas, destaque para Keep me in mind, mas Brand new start...



Ah! Fabrizio...

Pink Floyd, inspiração para o meu TCC...



E no final do ano, ouvi MUITO Nirvana...



Faltou muita coisa, mas eu preciso dormir.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Diálogos marcantes e até aquilo que não foi dito


Blasé como uma francesa, inteligente e... feia


Como 2008, apesar de passar rápido, foi um ano intenso, farei uma série de textos sobre esse amontoado de dias insanos.

Capítulo 1 - Diálogos marcantes e até aquilo que não foi dito

Duas horas na balada, bebendo whisky e cerveja, uma conversa que não evoluía de: "vou no banheiro, já volto", ou "vou pegar outra cerveja". E vem a pergunta:
- Desculpa, mas como é o seu nome mesmo?
- Gervásia...hahaha
- Sério?
- Não. É Aline.
- Ah! Achei que era, já que o nome da sua irmã começa com G também, tem família que é assim né. Lá em casa todo mundo começa com X...
- Não, lá em casa não é assim.
- Então, Gervásia, o que vc acha de me dar um beijo?
- ...
Aqui se aplica aquela história: Quem disse que eu quero você pra conversar?


No mercado, num desses encontros que você tentou evitar, mas não deu. Depois de uma breve atualização sobre os acontecimentos da minha vida:
- Pois é, meu filho disse que daqui um ano volta e vai te procurar pra vocês conversarem.
Sorriso amarelo.
- Bom gente, a conversa tá boa mas eu tenho que ir. Beijos!


Minha irmã e minha mãe no telefone:
- Mas a Aline não anda saindo muito, aprontando muito?
- Bom ela tá saindo bastante, mas não tá saindo, tipo assim... dando o cu.


Tá bom, minha irmã é a estrela desse capítulo.
- Sabe que a mãe dele reza todos os dias pra eles voltarem.
- Pois é, minha mãe reza todos os dias pra eles não voltarem.
(Silêncio. Todo mundo finge que não ouviu.)


No MSN:
- Sabe que eu te amo!
- Mas me conta, como foi ontem lá?


- Sabe que você com esses óculos fica parecendo uma francesa. Quem te olha pensa: ela é feia, mas é inteligente.
- COMO ASSIM? Tá me chamando de feiaaaaaaaa.
- Nãooo. Não foi isso que eu quis dizer. Confundi.
E o que você vai fazer, senão rir?


Minha amiga contando uma história:
- Pelaram toda a minha Keka, só ficou o rabinho peludo.
...
Calma gente, Keka é a cachorra dela, uma yorkshire fofa.


Claro que tem diálogos totalmente lesados, como "vamos restaurar no almoçante" e assim vai. Tive uma fase na qual essas frases eram frequentes, MUITO frequentes.


Sei que tem muitos outros diálogos, mas minha memória não está ajudando.