domingo, 24 de fevereiro de 2008

Quando a gente já não sabe e não precisa saber

Acordei com a boca seca e a cabeça pesada. Quando abri os olhos, a claridade da minha janela, com aquela persiana desengonçada, encardida e entreaberta, foi como um soco na minha cara. Virei pro outro lado e fiquei pensando como seria bom não precisar levantar naquele momento, não estar sentindo dor de cabeça e mais, como seria maravilhoso mergulhar num balde de água fria. Aí tenho a brilhante idéia de dormir mais 10 minutinhos porque, afinal, que diferença vai fazer? Acabo não dormindo nada porque fico tentando lutar contra a preguiça que quer me amarrar à cama. Com o olho fechado tento encontrar o copo com água que deixo ao lado da minha cama, no chão, quando sei que vou precisar me hidratar durante a madrugada, ou o que restou dela. Percebo que o copo virou, porque joguei da cama o cachorro com o qual eu tava dormindo. Meu cachorro de pelúcia. É fofo, não me rouba a coberta nem me joga pra fora da cama, não ronca, não peida e, principalmente, não reclama e nem me cobra nada. Tudo bem que... né? Mas nem tudo é perfeito. Levanto e me deparo com um monstro descabelado com a maquiagem borrada - eu sempre tenho preguiça de tirar a maquiagem - coloco o chuveiro na água fria, porque a água quente me deixa cansada nessas horas, desperto metades dos neurônios e consigo abrir ao menos um olho completamente. Nessa hora sinto meu estômago comprimido, mandando um recado pra minha garganta pra que, se ela deixar algo passar por ali, haverá resistência. Mas como eu sei que se não como quando acordo, fico enjoada, não comer quando acordo enjoada pode piorar a situação. O café sempre me faz bem nessas horas, forte, não muito doce, até consegue acordar mais meia dúzia de neurônios meio lesados. (Café me faz bem em qualquer hora). Aí é vestir uma roupa qualquer... eu nunca tenho paciência pra pensar numa composição mais elaborada quando acordo assim - se você me vê todo dia vai pensar: "Fodeu, a guria tá quase todo dia desajeitada" - passo um lápis pra disfarçar a cara inchada, apesar de não saber até que ponto passar lápis nos olhos ajuda a esconder uma cara inchada, coloco o óculos de sol e saio saltitante, mas sem saltitar muito, porque a cabeça ainda dói. É no caminho, seja lá onde estiver indo, que começo a rir de mim: pelas palavras desconexas, risadas sem motivo e pensamentos sem sentido. E me pergunto: até que ponto isso tudo não passa de um breve momento de loucura, no qual tento aproveitar ao máximo a minha liberdade, ou será uma constante, uma longa fase da minha vida, na qual ainda vou rir muito, chorar um pouco e colecionar novos amigos e histórias pra contar, pros netos que eu não vou ter?
E me respondo (perguntando): Desde quando eu preciso definir os momentos, delimitar barreiras entre loucura e sanidade - o que, na verdade, ninguém nunca conseguiu - pra ser feliz e viver a minha liberdade?
Pareço personagem de uma comédia, onde atuo e assisto, rindo da minha necessidade de definições e da vontade de me ver livre delas.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Tudo o que eu quero

Andava fugindo à razão. Meio despercebida, caminhando pelo caminho de todos os dias, me peguei inesperadamente fazendo um balanço sobre os últimos acontecimentos da minha vidinha mais ou menos. E fiquei com medo das coisas que desejo. Daquelas coisas que todo mundo deseja meio sem querer, sem nenhuma pretensão.

Lembrei que algumas coisas que pensei - meio sem querer pensar, como fatos que nunca iriam acontecer - estão acontecendo agora. O medo veio porque, justamente essas despretensões, se não se concretizaram ainda, estão se encaixando milimetricamente, transformando meus pequenos desejos em previsões. Previsões que não dei importância, simplesmente porque tinha deixado de acreditar em mim. Ou será que porque acreditar em si mesmo, às vezes, pode doer demais quando não se sabe esperar?

Acho que ainda não sei distinguir o que é apenas desejo absurdo ou desejo real.

Desejo absurdo porque as probabilidades de se tornarem reais são pequenas, como ganhar na mega sena, acabar com a fome no mundo, conhecer o príncipe encantado que chega num cavalo branco, essas coisas que, por elas mesmas, são exageradamente absurdas. Desejo real, porque com um pouco de esforço, estabelecimento de metas, feeling para as oportunidades, não fica tão difícil de realizar. Só é complicado, distinguir o real do absurdo, quando se tem preguiça de pensar.

O medo também vem de desejos maus e egoístas, que se encobrem pra que eu possa acreditar que não sou tão ruim assim. Mas nem sempre, o que é ruim pra você, é o mesmo pra mim. Então o jogo se inverte e eu descubro que o que eu não queria mesmo, era me importar mais comigo que com você. Das partidas que joguei, nas quais eu favorecia as cartas do oponente, entendendo que tudo que a gente dá, recebe em dobro, eu percebi, só agora, que perdi. O fato de jogar sujo, mesmo que a favor do opositor, não me isentou de terminar a partida como trapaceira.

E num momento (escasso) de razão eu entendi que, um dos meus anseios, quase inconsciente, era também perder, porque então eu poderia conquistar todos os outros desejos, pequenos e grandes, racionais e insanos, inconseqüentes ou não. Assim, meio sem querer e com preguiça de pensar, eu matei um mito.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O Pequeno Príncipe e a raposa

Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua - disse o principezinho. - Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis - disse a rapsa.
- Mas tu vais chorar! - disse ele.
- Vou - disse a raposa.
- Então, não terás ganho nada!
- Terei, sim - disse a raposa - por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Assim, compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.

O pequeno príncipe foi rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu a tornei minha amiga. Agora ela é única no mundo.
E as rosas ficaram desapontadas.
-Sois belas, mas vazias - continuou ele. - Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela quem pus sob a redoma. Foi ela quem abriguei com o pára-vento. Foi nela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi ela quem eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Já que ela é a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:
- Adeus... - disse ele.
- Adeus - disse a raposa. - Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
-O essencial é invisível aos olhos - repetiu o pincipezinho, para não se esquecer.
-Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.
-Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... - repetiu ele, para não se esquecer.
-Os homens esqueceram essa verdade - disse ainda a raposa. - Mas tu não deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa...
-Eu sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para não se esquecer.

O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Efeito borboleta

"Minha mãe mandou eu escolher este daqui, mas como eu sou muito teimosa eu escolho este daqui!"
Quantas escolhas na sua vida você já fez assim?
Estradas de asfalto. Falta de calor. Falta de cor.
E se pudéssemos conhecer tudo, prever tudo, se tudo fosse determinado previamente e não pudéssemos intervir, como o Demônio Laplaciano, cuja inteligência onisciente previa o futuro, mas a ele restava apenas assistir aos acontecimentos... entediante.
Nunca acreditei em destino, e sempre fui intolerante com quem acredita!
A *Teoria do Caos* propõe uma espécie de determinismo, até certo ponto, quando um efeito borboleta incide sobre o sistema. O destino existe, mas é influenciado por nossas escolhas. Em vários momentos de nossas vidas, somos colocados em frente a caminhos que podem gerar consequências diversas em nossas histórias.
Não existe pré-determinação e sim escolhas!
Ahan! Eu sempre falei que preferia poder controlar minha vida, mas acabei descobrindo que não é tão fácil assim.

Ordem e desordem

Ordem gera desordem e desordem gera ordem!

"O relógio simbolizou, para muitos autores, a ordem do universo. Seus movimentos são totalmente previsíveis. Para saber como funciona um relógio, basta desmonta-lo e compreender como suas peças se encaixam. Da mesma forma, para compreender a natureza, bastava desmontá-la, descobrir como funcionam suas partes e tudo se revelaria com espantoso determinismo". Um pouco da *Teoria do Caos* de Benoit Mandelbrot, apesar de o texto ser de um site!