Teve um esses dias, de uma amiga que eu amo. Não fui porque não pude, mesmo. Tava até o pescoço com as coisa do TCC e simplesmente não dava. Eu tinha que estabelecer um objetivo na vida e deixar de lado essa maluquice que tentava me impedir de terminar a faculdade(era um medo gigante de largar a vida de faculdade, depois de sete anos). Dessa vez não teve como. Eu tive que ir. Me senti a Carrie, do Sex and the city. Indo de táxi, sozinha, para um casamento. Eu ia encontrar alguns conhecidos e, afinal, sou uma mulher moderna e resolvida. Chegando lá, eu era a única solteira, sozinha e rodeada por casais felizes. Olhando tudo aquilo, minha amiga com o sorriso na orelha, me senti feliz por ela e por mim.
Foi o primeiro casamento de uma amiga. Eu achava que ia pensar: Meu Deus, minhas amigas estão casando e eu estou ficando pra titia.
Não foi nada disso! Eu tive certeza que nunca estarei numa situação dessas. Tá, falando assim, parece que eu acho ruim, mas ruim não é o adjetivo exato. Cada um pensa do jeito que quiser, tem sonho de fazer faculdade, casar, comprar seu apê e ter filhos.
Eu não! Há um bom tempo aliás. Lembro de uma conversa que tive com a minha mãe. Eu tava contando que meu então namorado tava querendo morar comigo. Ela perguntou o que eu achava e eu disse que não queria. Ela me olhou espantada e perguntou: Então o que você tá fazendo com ele? - Ué mãe, sexo. Depois de um olhar de censura e um pouco de risada, eu expliquei que quero muito mais da vida e que, morando com alguém aos vinte e poucos anos, minhas chances de fazer tudo o que eu quero seriam podadas, se não completamente, pelo menos pela metade. Expliquei que gostava dele, mas que meus sonhos iam muito além de casar e ter filhos. Não nego que eu gostava de estar com ele e achava que ia ficar com ele pra sempre. Mas aí, morar junto, assim, antes de ter feito tudo que eu tenha necessidade de fazer sozinha, já é demais. Eu preciso me conhecer muito melhor, encontrar meu equilíbrio, me amar mais, viajar mais, conhecer mais pessoas. Quero, sozinha, comprar meu apartamento, meu carro, viajar e ter meus dias sozinha em casa, tomando vinho e lendo um bom livro, sem roupa e quietinha.
Então aquele não era o momento. Agora eu vou parecer um pouco contraditória, mas é preciso lembrar que aquele não era o momento. Eu quero, sim, um dia, quem sabe, morar com alguém. Mas não quero casar. Casamento-convenção, na minha vida, sempre remeteu ao fracasso. Você pode julgar, dizendo que eu sou traumatizada porque o casamento dos meus pais não deu certo. Ok, esse pode ser um fator de influência, mas não é o único. Pra que casar? Gastar dinheiro, fazer uma cerimônia pra mostrar pra todo mundo que o amor dos dois é único o eterno. Eterno o caralho! Eu não vou prometer uma coisa que não sei se vou cumprir, nem ouvir uma coisa que não sei se o cara vai poder cumprir. Não boto minha mão no fogo por ninguém, também.
Quando eu for morar com alguém, vai ser porque eu quero estar ali e porque eu sinto que a pessoa realmente me quer do lado dela. Enquanto esse sentimento durar eu fico por lá. Quando eu perceber que o sentimento está dando espaço à posse ou ao hábito, eu faço minha trouxa e vou embora. É por isso, porque o amor só existe quando duas pessoas se doam, completamente, que eu não preciso provar nada pra ninguém nem fazer juramento nenhum. E porque eu entendo que um dia ou outro as coisas podem mudar, tudo muda, o tempo todo, até as convenções. Minha mãe vê de um jeito, eu vejo de outro, mas respeito muito o que ela pensa. O que os outro pensam sobre isso também, que fique bem claro.
Se prestarmos um pouco mais de atenção, nem tudo é tão sofrido quanto a gente pensa, talvez a gente até acabe tornando tudo mais sofrido do que deveria ser. O que eu realmente quero dizer é que, sofrer, meu bem, não é tão ruim assim.
No final, me senti muito bem por estar ali, vendo minha amiga realizar o seu sonho, sozinha e com toda a independência pra sair de lá e ir pra outra festa encontrar, outros amigos e conhecer novas pessoas.
Merece:
Soneto de fidelidade - Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.