sábado, 28 de fevereiro de 2009

sem-teto

Minha principal ocupação do meu primeiro dia das merecidas férias: procurar um lugar decente, bem localizado, cuja via pública não seja frenquentada por prostitutas, traficantes, nem por gente feia. Ok, essa última característica não foi imposta por mim. Na verdade, a segunda característica também não me causa grande repulsa. Pensando bem, nem a primeira.
Mas voltemos ao objetivo primeiro: achar um apartamento. Estamos à poucos dias do despejo e, apesar de muitos já terem cogitado a ideia, não, não fomos expulsas.
Todos os locais habitáveis estão longe demais, ou pra uma, ou pra outra. Quando não estão longe, são caros. Quando não são caros, estão mal conservados. Quando são lindos, com boa localizados e aluguel barato, o preço do condomínio me faz pensar: por esse valor deve ter um mordomo pra cada morador, e eles servem café na cama, todos os dias.
Aí a busca parece infinita. Segunda, aliás, vou precisar teletransportar pra conseguir visitar todos os apês que marquei.
Eu sei que é a maior besteira do mundo, mas eu queria um conto de fadas.
Encontro o apartamento perfeito, ele é tão lindo e tem exatamente os móveis que nos faltam. A pintura da sala é toda estilosa, o banheiro é bem iluminado, tem uma parede com espelho do chão ao teto, banheira com hidromassagem, a cozinha é retrô, uma sacada onde eu possa colocar cadeiras e que tenha a vista de uma praça, ou parque, onde eu vou sentar nos finais de tarde de domingo e tomar uma cerveja, bem tranquila, e me sentir em casa.
A locação não será por imobiliária e o proprietário não exige fiador de Curitiba e até aceita seguro fiança. Mas ele vê que eu combino tanto com o apartamento, que resolve deixar tudo pela metade do preço, porque sabe que eu vou cuidar daquele lugar como se fosse minha casa. O que é quase uma verdade, ele foi feito sob medida pra mim, só faltava encontrá-lo.
Então eu começo a mudança no outro dia, todos os meus amigos me ajudam a encaixotar minhas tralhas e arrumar tudo bonitinho no meu novo lar.
O mais importante: meus amigos estarão bem perto de mim, não exatamente do outro lado da rua, mas a uma quadra de distância e, quando eu quiser conversar, fumar um cigarro ou comer um miojo, é só andar poucos passos e apertar a campainha.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sky is over

Everybody knows
Everybody knows
That you cradle the sun, sun
Living in remorse,
Sky is over,

Don't you want to hold me baby
Disappointed, going crazy

Even though we can't afford
The sky is over

Serj, I love you!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

mais uma sobre roupas de astronautas

Queria óculos que mostrassem cores fortes, que fizessem sentir vibrações, cheiros agradáveis, toques de vida, sensações esquecidas. Mas aí seria uma máscara. Melhor, uma roupa. Roupa de astronauta. Essa já grudou na pele. Não consigo mais tirar. Não é como super bonder que descola com água morna e um pouco de paciência. Dia desses tentei insistir um pouquinho mais e arranquei um pedaço da pele. Dói.
Queria lembrar o momento exato que parei de ver as coisas com empolgação e esperança. Sabe, talvez seja desses traumas que a gente resolve com um pouco de terapia e remédios tarja preta. Bons tempos aqueles de ocadil com vodka. Piadas infames que faziam brotar lágrimas de risos.
Hoje é tudo assim, tão indiferente. Sabe aquela alegria de olhar o mundo? Acordar abrir as cortinas, depois a janela, espreguiçar, ver o cachorro vir correndo ao seu encontro. A maquiagem e o cabelo já estão prontos. Não precisar de academia pra estar gostosa. Nem de cremes e perfumes pra ter a pele sedosa e aquele cheirinho bom. Tanto filme que tem isso. Acho que na verdade são desenhos animados. Mentira! Esses comerciais de suco de soja, ou de suco de laranja com gomos, também tem presunto de peito de peru, margarina com ômega 3, maionese de leite, light e sem gordura trans.
Tudo é tão perfeito e nada dá errado. O pão nunca cai, que dirá com o lado da margarina pro chão. Os personagens nunca estão de ressaca, com a cara amassada, maquiagem borrada, lente embaçada. Você esbarra no copo de suco de soja light, ele quebra, suja o chão e a roupa amassada que você colocou pensando: será que tá só amassada ou eu esqueci mesmo de lavar? Não, isso não acontece. Não nesse mundo aí que nem existe.
Pronto! Será que descobri? Não podem ser só essas coisas fantasiosas que a gente vê todo dia que deixam a gente assim, sem paixão pela vida e pelas pessoas. Não! Não pode!
Tem que ter uma explicação mais racional. Mas eu não sei. Não sei de nada. Só sei que eu queria sentir uma paixão intensa por essa vida, já que é só uma. Mas é tudo tão insosso. Eu sei, dá preguiça. Eu dou preguiça. Mas não queria ser assim. Queria essa lente "mental" que faz encarar a vida de uma forma genial. Deve estar em falta no mercado. Pode também ser um chip colocado em um número restrito de pessoas. Eu não devia estar na lista. Ou o meu deu pau. Entrou água, desconectou alguma coisinha ali, tinha defeito. Mas daí vão dizer que colocam defeitos pra fazer alguns testes. E quando não colocam, os defeitos aparecem de qualquer jeito. Falhas de percurso sempre acontecem.
Nem chorar mais eu consigo. Aí preocupa. Tem que ter emoção na vida. Não uma emoção eufórica de missão cumprida que dura 5 minutos e que não passa de adrenalina manipulada. Aquela emoção que brota e que persiste. Um incômodo gostoso, que eu não sei explicar, já que não posso sentir. Mas já ouvi falar. Não necessariamente ouvi, devo ter lido em algum lugar. Mas não lembro. A memória não dura quando não há emoção.
Não entendo mais nada. Não tento entender nada, nem sei se quero. Aí está! O problema. Não a solução.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Zen-Budismo

"Quando nos deparamos com o sofrimento humano, é mais importante agir com compaixão do que questionar a posição política daqueles a quem estamos ajudando." (Dalai Lama, O Livro de Dias, Sextante)

Eu comecei há pouco tempo. Foi uma mistura de curiosidade e necessidade. Já fui católica por imposição, era criança e até gostava, mas nunca consegui me encontrar. Participei de retiros na igreja presbiteriana. Também fui em centros espíritas. Mas nada me completava, não me sentia uma pessoa melhor.

Até que dia desses resolvi conhecer o Zen-Budismo. Cheguei, tirei os sapatos, sentei desajeitada no zafu (uma almofadinha preta e redonda, com uma fitinha branca pra marcar a posição), não consegui fazer a posição certa com as pernas. O monge disse que é normal, mas logo acostuma. Fiquei ali, 40 minutos meditando. Tinha que me concentrar na respiração, olhar em um ângulo de 45º, com os olhos semi-cerrados, sem me concentrar em nenhum objeto específico. Ficar ali e contemplar os pensamentos, sem julgá-los. E como isso é difícil. Julgamos tudo, o tempo todo.
É tão difícil controlar os pensamentos, só contemplar, como em um espelho. Aí vem a dor, o desconforto. Então você levanta e anda, meditando. Meio passo a cada respiração completa, por mais 40 minutos. Senta, posiciona, coluna ereta, respiração abdominal, olhando pra nada, e os pensamentos voando, você brigando pra não julgar.
Todo mundo se reúne, toma chá e conversa. O monge explica algumas coisas, tira dúvidas.
Tudo na vida tem sofrimento, precisamos aprender como não deixar fatores externos interferirem em nosso equilíbrio. Como é difícil.
Sabe o que é mais legal, o Zen-Budismo não diz o que você deve ou não deve fazer. Tem seus rituais, é preciso respeitar. Mas é só você, durante o Zazen, conhecendo, contemplando. Encontramos nosso equilíbrio sozinhos, ninguém nos diz o que fazer ou o que não fazer, o que é pecado e o que não é, se vamos para o céu ou para o inferno. É encontrar agora, aqui, durante a vida, nosso equilíbrio. É nos tornarmos pessoas melhores, mais criativas, mais atenciosas, mais solidárias e, porque não, mais humanas.
No meu segundo dia, foi tão difícil, eu senti tanta dor. Não conseguia me concentrar em nada, não consegui ficar parada. Mas foi um aprendizado tão grande, sobre limites, sobre a necessidade que todo mundo tem de parar por algumas horas e contemplar sua vida. Quem faz isso hoje? Quem para? Quem se importa? Quem dá atenção?
A conversa com o monge, dessa vez, foi sobre ego. Eu tinha uma idéia totalmente errônea sobre o ego, nem vou explicar porque dá vergonha. Ele explicou que nosso ego é feto de lembranças. Por meio delas traduzimos o mundo a nossa volta. Se uma pessoa faz uma sacanagem um vez com você, ela será pra sempre sacana. Mas ela não é aquela sacanagem, ela é mais e ela pode mudar. Por que não? Sem querer vamos criando nosso mundo, de acordo com nossas percepções que, na maioria das vezes, não são reais. Então, fodeu tudo. É preciso destruir nosso ego. É preciso transcender.
Eu me encontrei e aguardo ansiosa pelas duas horas semanais que passo na Praça do Japão, meditando.

Pode ser que eu tenha falado alguma besteira, mas ainda tenho muito o que aprender e tenho vontade disso, talvez o mais importante de tudo. Para saber mais, clique aqui.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ela, de novo!

Eu sempre procuro estar rodeada por loucos, pois sempre achei que minha loucura era pouca e precisava de mais combustível pra incendiar tudo de vez. Amo pessoas loucas. Elas me inspiram, me mostram mundos diferentes em coisas que antes passavam despercebidas. As pessoas loucas tem um quê inexplicável, mas que me atraem, como se estivesse ligada à elas por fios, teias. Insanos seduzem, puxam, sugam, são redemoinhos aleatórios. Em um mundo frio, eles são quentes. Eu estou imersa em um universo de loucos.
Hoje eu me descobri uma louca de pedra. Mas é uma loucura inofensiva, daquelas que só fazem mal a mim, sometimes, ou quase todos os dias. Mas eu não vivo sem ela. É uma coisinha meio incômoda, mas indispensável. Sempre me enche de caraminholas, manias, neuras. Mas me permite sempre fazer coisas impensáveis para pessoas de plástico (ah! as conversas com os loucos no bar). Eu tenho muito sangue correndo nas veias, dos meus olhos escorrem muitas lágrimas, eu tenho medos, inseguranças e muita sensibilidade.
A loucura te põe em cada uma. São verdadeiros labirintos com muitas luzes, cores, cheiros, gostos, toques e vida. Faz enxergar coisas que não existem e que por fim se tornam reais. O amor é indispensável à loucura. Afinal, quem, em sã consciência, se entregaria ao amor. Essa sementinha no estômago que cresce e toma conta do seu corpo. Envolve dor, incerteza, insegurança, ciúmes (mas nunca posse). São pessoas, coisas, atos, sons, extremamente apaixonantes e tãooo, mas tãooo loucos. A loucura, meu Deus, faz tudo parecer tão desconexo e te obriga a procurar pelo encaixes, mesmo quando você sabe que eles não existem. Aí, você inventa um remendo e tudo fica tão lindo, e perfeito, e claro. Dá vontade de abraçar o mundo e de chorar, porque aquilo, só os loucos conseguem enxergar. É um sentido que não faz sentido nenhum, pra ninguém e, por isso mesmo, é tão óbvio.
Aquela vontade de chorar engasgada, aquela tristeza por coisas ínfimas, que são perseguidas por alegrias subestimadas, como aquele arrepio na espinha de uma lembrança que passa correndo pela cabeça. Quando são, você não a percebe.
O desejo de gritar, se descabelar, subir em uma árvore -- como você fazia na infância -- e comer uma fruta. Por que tantas pessoas negam à essas coisas e fingem que não é nada com elas? O que elas sentem? Como elas sentem o mundo, se não é dessa forma descontrolada e desordenada da loucura?
A falta de impedimento pra falar o que se sente, pra falar do que corrói por dentro, de ser humano. Falar, fazer, cair, levantar. Jamais, mas jamais, desistir. Mudar de idéia, mudar de rumo, essa é uma coragem presente somente nos insanos. A loucura vem acompanhada de medo, mas um medo que não cala, que te faz seguir em frente, pegar um atalho, voltar, repetir. Não existe erro ou acerto. Existem momentos que não voltam, coincidências e destinos. Mas é incerto, é louco, é vivo, é lindo!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Loucura

"O amor nem sempre é loucura". Minha mãe é sábia. Não só a minha, mas a sua também. Sabedoria de mãe. Elas sempre sabem a coisa certa para nos dizer, seja para nos confortar ou nos fazer estremecer.
Minha psicóloga um dia me disse que eu era condicionada ao sofrimento. Ela sempre vinha com aquela pergunta que me deixava calada, pensativa e até com vergonha, sem poder rebater. "Isso não é masoquismo?". Depois de tanto ela me fazer a tal pergunta, eu comecei a fazê-la frequentemente quando meus atos ou pensamentos pareciam masoquistas. Mas eu fazia de uma maneira meio automática, sem compreender muito bem. Mente rebelde.
Até o dia que minha mãe disse essa frase, tão simples e com tanto significado. A diferença, talvez, esteja no fato de ela saber muito bem do que fala e por me conhecer mais do que ninguém.
Eu entendi, finalmente. Mas surgiu outro problema, maior, que eu não sei resolver.
A loucura me fascina.