Acordei com a boca seca e a cabeça pesada. Quando abri os olhos, a claridade da minha janela, com aquela persiana desengonçada, encardida e entreaberta, foi como um soco na minha cara. Virei pro outro lado e fiquei pensando como seria bom não precisar levantar naquele momento, não estar sentindo dor de cabeça e mais, como seria maravilhoso mergulhar num balde de água fria. Aí tenho a brilhante idéia de dormir mais 10 minutinhos porque, afinal, que diferença vai fazer? Acabo não dormindo nada porque fico tentando lutar contra a preguiça que quer me amarrar à cama. Com o olho fechado tento encontrar o copo com água que deixo ao lado da minha cama, no chão, quando sei que vou precisar me hidratar durante a madrugada, ou o que restou dela. Percebo que o copo virou, porque joguei da cama o cachorro com o qual eu tava dormindo. Meu cachorro de pelúcia. É fofo, não me rouba a coberta nem me joga pra fora da cama, não ronca, não peida e, principalmente, não reclama e nem me cobra nada. Tudo bem que... né? Mas nem tudo é perfeito. Levanto e me deparo com um monstro descabelado com a maquiagem borrada - eu sempre tenho preguiça de tirar a maquiagem - coloco o chuveiro na água fria, porque a água quente me deixa cansada nessas horas, desperto metades dos neurônios e consigo abrir ao menos um olho completamente. Nessa hora sinto meu estômago comprimido, mandando um recado pra minha garganta pra que, se ela deixar algo passar por ali, haverá resistência. Mas como eu sei que se não como quando acordo, fico enjoada, não comer quando acordo enjoada pode piorar a situação. O café sempre me faz bem nessas horas, forte, não muito doce, até consegue acordar mais meia dúzia de neurônios meio lesados. (Café me faz bem em qualquer hora). Aí é vestir uma roupa qualquer... eu nunca tenho paciência pra pensar numa composição mais elaborada quando acordo assim - se você me vê todo dia vai pensar: "Fodeu, a guria tá quase todo dia desajeitada" - passo um lápis pra disfarçar a cara inchada, apesar de não saber até que ponto passar lápis nos olhos ajuda a esconder uma cara inchada, coloco o óculos de sol e saio saltitante, mas sem saltitar muito, porque a cabeça ainda dói. É no caminho, seja lá onde estiver indo, que começo a rir de mim: pelas palavras desconexas, risadas sem motivo e pensamentos sem sentido. E me pergunto: até que ponto isso tudo não passa de um breve momento de loucura, no qual tento aproveitar ao máximo a minha liberdade, ou será uma constante, uma longa fase da minha vida, na qual ainda vou rir muito, chorar um pouco e colecionar novos amigos e histórias pra contar, pros netos que eu não vou ter?
E me respondo (perguntando): Desde quando eu preciso definir os momentos, delimitar barreiras entre loucura e sanidade - o que, na verdade, ninguém nunca conseguiu - pra ser feliz e viver a minha liberdade?
Pareço personagem de uma comédia, onde atuo e assisto, rindo da minha necessidade de definições e da vontade de me ver livre delas.
Meu nome não é Luciana
Há 6 anos
2 comentários:
O texto está ótimo Aline. Ressaca lírica... Beijo grande e continue postando!
ressaca lírica, aham... isso aí foi ressaca das bravas mesmo! hahaha
bom texto, alyne!
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