quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Descompasso

Será o ambiente que se molda ao ser humano, ou o ser humano que se molda ao ambiente? Essa pergunta lhe surgiu quando olhava o forro mofado, as teias de aranha aos cantos, a cortina encardida e os móveis deteriorados do seu quarto. Quarto, aliás, era o último nome que alguém daria para aquele cubículo 3x2, no qual três pessoas precisariam se encolher para dividir espaço, de forma bem desconfortável se fosse levado em conta o cheiro fétido que deixava ainda mais clara sua falta de asseio.
O pensamento sobre sua gaiola logo desapareceu para dar espaço ao sentimento que comprimia seu peito há tanto tempo. O sentimento, ou a total falta dele, por qualquer outro ser humano. Era como se todos, até aqueles que tivera amado tanto até alguns anos - que pareciam dias, já que o tempo também não lhe representava mais muita coisa - não fizessem mais sentido. Essa indiferença era mais aterradora que o ódio. Ele sofria, por sua incapacidade de apego, de afeto, por não mais conseguir amar. Porém, jamais pela falta de amor.
O peso sobre seu peito era tão grande que parecia grudar-lhe na parede ensebada e não o deixava levantar. Também não lhe agradava a idéia de sair dali, encontrar pessoas, encarar a luz do sol e toda a vida das ruas.
Aqueles a quem já tinha amado e que, possivelmente também o amaram um dia, julgavam suas atitudes egoístas. Mais egoístas que egocêntricas ou resultado de um distúrbio mental.
Ele simplesmente entedia que a realidade os fazia assim, que qualquer comportamento diferente ou instabilidade afasta as pessoas daqueles que não mais se encaixam aos seus padrões. Eram todos eles também egoístas, porque não iriam deixar seus afazeres, suas vidas tão bem definidas para se entregar ao trabalho de cura de alguém em quem já haviam perdido a esperança, muitos, sem jamais tentar entender.
Não conseguia lembrar o exato momento em que tudo começara. Sentia, porém, uma culpa por algo que devia ter feito, mas que não sabia exatamente o que era. E qualquer pessoa a sua frente fazia explodir a culpa em seu peito, como se estivessem a fazer uma massagem cardíaca sem necessidade, que só servia para deixar sua respiração descompassada, levando-o à sufocação.
Teria, então, seu ambiente se moldado a sua necessidade de exílio? Ou teria aquele ambiente lhe trazido uma culpa já esquecida, que, bem sabia, podia não ser sua?

Um comentário:

mau disse...

eu diria ambos, simbiose. e diria ainda mais depressão. é isso.

outra coisa

era a último ou O?

Gostei! Muito bom.

Abraço amiga

AGora eu tenho mais um lugar onde eu escrevo, fotolog

www.fotolog.com/sacada1003

dá uma conferida quando tiver tempo.

Beijos